EXTREMISMO CRISTÃO, ESPALHA TERROR NA ÁFRICA CENTRAL

RELATÓRIO DE AGÊNCIA INDICA QUE 20% DOS HABITANTES DE 4 PAÍSES FORAM FORÇADOS PELO LRA A DEIXAR SUAS CASAS



VIA: ESTADÃO

O extremismo cristão também faz vítimas na África há mais de 30 anos. A violência do Exército de Resistência do Senhor (LRA, na sigla em inglês) atinge as populações de quatro países da África Central, onde 440 mil pessoas se viram forçadas a deixar suas casas e cidades neste ano, segundo relatório do Alto-Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), do Centro de Monitoramento de Deslocamento Interno (IDMC) e do Conselho Norueguês de Refugiados (NRC). A proporção de deslocados e refugiados – 20% da população – não é alcançada nem mesmo na Síria em conflito.

Nas última três décadas, o total de deslocados pelas ações violentas do LRA chegou a 2,5 milhões. O grupo atua na República Democrática do Congo (RDC), em Uganda, no Sudão do Sul e na República Centro-Africana, onde deixa rastros de massacres, mutilações, estupros, sequestros e pilhagens. Crianças e adolescentes têm sido raptados para a escravidão sexual, o trabalho servil e os combates, como soldados.

O relatório “Uma Vida de Medo e Fuga”, divulgado dia 19, descreve o ambiente inóspito e as condições de extrema pobreza da população local.

Somente em duas províncias da RDC, Haut-Uélé e Bas-Uélé, frequentes alvos do LRA, a pobreza atinge 87,7% da população, conforme o Relatório de Desenvolvimento Humano de 2013, com base em dados dos anos anteriores. Essa região responde por 319 mil deslocamentos, dos 440 mil registrados na África Central. O Acnur e o IDMC acreditam que esse número é ainda maior atualmente.

Casos de brutalidade do LRA vão além dos ataques violentos a pequenas cidades e vilarejos. Segundo o relatório, Josiane, de Dungu (RDC), teve os lábios cortados com uma lâmina de barbear por soldados do LRA, enquanto era insultada. Vumiliya, da mesma localidade, assistiu à morte brutal do irmão neste ano. Ele foi esfaqueado no corpo, cabeça e olhos e decapitado com um facão. Um garoto sequestrado pela guerrilha relatou sua experiência à Human Rights Watch há três anos, na RDC.

“Primeiro, eles amarraram a pessoa e, então, me ordenaram que a matasse com um pedaço de pau. Era um menino congolês. Eu vi dez pessoas mortas daquele jeito, meninos e meninas. Toda vez eles eram mortos por outras crianças que tinham sido sequestradas. Eles (os milicianos) escolhem as vítimas aleatoriamente e nos dizem: ‘pegue seu bastão e mate esse animal’.”

O LRA nasceu em 1987 do messianismo de seu líder, Joseph Kony. Ele alegou ser o “porta-voz de Deus” e dos espíritos cultuados na tradição acholi, etnia presente no norte de Uganda e no Sudão do Sul. Sob bandeira vermelha, negra e azul, Kony mobilizou combatentes de outros grupos nacionalistas dispersos para a construção de um Estado teocrático na África Central. Aos seus soldados, aconselha a desenhar uma cruz no peito com óleo de carité, para proteção do fogo inimigo.

Não existe certeza sobre o número total de seus seguidores e sobre o financiamento de suas ações. Em 2005, Kony foi acusado na Tribunal Penal Internacional e entrou na lista dos dez mais procurados no mundo.

Há dois anos, a Casa Branca enviou 100 militares como conselheiros para as forças dos quatro países vítimas do LRA. No ano passado, a organização Invisible Children lançou o documentário Kony 2012, com o objetivo de chamar a atenção das autoridades e pressioná-las a apoiar a caça ao líder guerrilheiro. O vídeo foi visto por mais de 100 milhões de pessoas e promoveu a arrecadação de cerca de US$ 20 milhões. Como resposta, os quatro países coordenaram uma ação com 5 mil soldados para tentar prender Kony.

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