HOMOFOBIA Agora é crime em Pernambuco

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Em uma iniciativa pioneira no País, estado é o primeiro a identificar nos boletins de ocorrência policiais casos de discriminação e violência provocados por homofobia; delitos também passarão a ser enquadrados como conduta criminosa; projeto piloto está sendo implantado na delegacia de plantão do bairro de Casa Caiada, em Olinda, Região Metropolitana do Recife

Foi publicada no Diário Oficial do Estado de Pernambuco dessa quarta-feira (27), o Decreto nº 39.542, de 25 de junho deste ano, que regulamenta a Lei nº 12.876, de 15 de setembro de 2005, dispondo sobre a violência contra homossexuais em Pernambuco. A partir de então, casos de violências e discriminações contra Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais – LGBT, especialmente as motivadas por homofobia, serão considerados crime.

A portaria foi assinada de forma conjunta entre a Secretaria de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos (SEDSDH), Secretaria de Defesa Social (SDS) e Secretaria de Assessoria do Governador. O Brasil possui um Projeto de Lei Complementar (PLC) – 122 que tipifica o crime de homofobia. Entretanto, ainda não é colocado como tipo penal, o que torna Pernambuco pioneiro com a iniciativa.

"Fico feliz ao ver efetivada mais uma iniciativa do Governo do Estado que visa o respeito à vida, à pluralidade e à diversidade, mostrando que é possível combater qualquer tipo de preconceito e garantir a segurança de todos os pernambucanos”, ressaltou a Secretária de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos, Laura Gomes.

Tal resolução surge devido a necessidade de disciplinar, conjuntamente, o conceito de homofobia a ser aplicado na sistematização e mensuração de dados oficiais de crimes ou violações de direitos da população LGBT. Afora a constante situação de vulnerabilidade vivenciada pelo segmento.

Ainda de acordo com a secretária Laura Gomes, o respeito as diferenças é um dos pilares para a redução da violência.  

“Esse é um compromisso de vida que tenho, compromisso não só como agente pública, mas principalmente como uma cidadã que acredita na igualdade e entende que a violência só se reduz quando se respeita as diferenças", completou.

Ficou definido no âmbito das políticas públicas estaduais destas Secretarias, a homofobia como violência praticada em virtude da orientação afetivo-sexual e/ou identidade de gênero da população LGBT. Pode ser direta, causada pelo ódio, ou indireta, quando há contexto favorável ao seu cometimento ou impunidade.

Para o Centro Estadual de Combate à Homofobia – CECH, programa vinculado à Secretaria Executiva de Justiça e Direitos Humanos – SEJUDH / SEDSDH, responsável pela coleta de dados e reflexões acerca dos números de homicídios LGBT que subsidiaram a portaria assinada, essa nova medida irá contribuir para uma melhor compreensão dos agentes públicos de segurança para os casos de violência contra homoxessuais.

“A violência contra LGBT motivada pelo preconceito e discrimimnação tem características próprias que merecem atenção especial dos profissionais e gestores de segurança pública”, afirmou o coordenador do CECH, Rhemo Guedes.


Rhemo disse ainda que o trabalho com profissionais da segurança pública se deu ao longo de 2013 através das Semanas de Direitos Humanos, onde as atividades eram realizadas nos batalhões da PM que representavam cada região do Estado.

“Visitamos 12 municípios com ações in loco e indiretamente outros 40, o que totalizou 288 profissionais alcançados. Mata-se por ser homossexual e ainda com requintes de crueldade. As polícias militar e civil precisam estar preparadas para previnir e reparar os casos de homofobia em Pernambuco”, completou.

O racismo antinegro no sistema de imigrantes e refugiados no Brasil

Xenofobia tem cor no Brasil

Por Luciana Fernanda Silva para as Blogueiras Negras

Ainda hoje, milhares de africanos chegam à costa brasileira em porões de navio.
Alex André Vargem¹
Os vídeos a seguir apresentam cenas fortes, mas recomendadas.
Este homem vindo de Gana estava sendo torturado por tripulantes em um navio estrangeiro que carregava caca no porto de Ilhéus, na Bahia. Nesta situação, segundo relato de um ativista presente, que, por segurança, não poderei citar-lhe o nome, agentes da Polícia Federal estavam no local e não fizeram nada, alegando que o navio é território estrangeiro. Se o africano fosse um sueco… torturado por africanos, as atitudes serias bem diferentes.
As imagens abaixo, as quais podem ser conferidas nessa reportagem retratam a situação onde nove refugiados nigerianos que, foram descobertos e, mais uma vez, torturados em um navio de bandeira turca na costa brasileira, no porto de Paranaguá. Estavam apenas com a roupa do corpo e fugiram por causa da situação política de seu país. Em meio ao trajeto, foram descobertos e presos em salas minúsculas, cujas portas foram CERRADAS para evitar que fugissem, sem condições de higiene – estavam fazendo suas necessidades em garrafas plásticas e pinicos improvisados.
Os agentes da fronteira, segundo Vargem (2012), disseram que não permitiriam a permanência desses estrangeiros aqui por que eles eram uma “ameaça à saúde pública e à segurança nacional”. Os patrícios apenas conseguiram entrar e pedir refúgio aqui por conta de uma liminar judicial.
Vargem (2012), explica ainda que “diversos direitos dos nigerianos foram violados segundo as normas internacionais das quais o Brasil é signatário, principalmente, o direito de solicitar refúgio”, e ainda destaca o alarmante fato deste não ser “um caso isolado e estabelecer uma relação com o fenômeno global das políticas migratórias restritivas adotadas por muitos países”.
Abaixo, mais um absurdo gravado. Mais um refugiado africano, vindo de Camarões que foi torturado por um navio de bandeira turca. Ele foi JOGADO EM ALTO MAR na costa brasileira, e esperou cerca de onze horas até ser resgatado por uma outra embarcação chilena.
O mundo sem fronteiras é uma falácia para os pobres. Em relação aos negros, este sofisma é intensificado. As portas de entrada e de saída deste “território nacional” se tornam “muito mais burocráticas” para os negro-brasileiros. Em se tratando de nascentes em países africanos, então, as chances de sucesso são reduzidas.
É óbvio que os outros estrangeiros oriundos de países em eterna emergência também sofrem discriminação. Entretanto, os negros africanos são os que melhor conhecem o significado de xenofobia. Tal conjuntura é facilmente inferida se pensarmos que a lógica operadora deste sistema capitalista que nos oprime é engrenada pelo racismo – transgeracional – anti-negro.
Segundo precários dados da Organização Internacional da Migração (IOM) e do Comitê Nacional para Refugiados (CONARE), a maioria dos africanos que saem de avião ou fogem de navio da África tem como destino o Brasil.
O Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) separa o refugiado do imigrante. Os imigrantes são aqueles que normalmente saem de seus países por conta de alguma situação socioeconômica, e o refugiado por “fundado temor e perseguição por motivos políticos, sociais ou culturais”. O pesquisador Alex Vargem (2012), defende que essas categorias se confundem “se considerarmos que uma pessoa que é perseguida politicamente também pode sofrer formas de sanção ou exclusão econômica”. Neste caso, conclui, “o contexto político, econômico e social é o mesmo”.
Embora o Brasil seja signatário do Estatuto dos Refugiados, organizado pela ONU, o qual estabelece que os países que o compreendem devem conceder refúgio, a negligência quanto ao direito à informação por parte dos agentes de fronteira aos refugiados impede a possibilidade e muitos estrangeiros buscarem meios legais de permanência.
Segundo os estudos de Vargem, cerca de menos de 30% dos refugiados africanos conseguem refúgio, ou seja, documentação e visto de permanência. De modo que, a grande parte que não obtêm êxito fica à deriva no país. Pois, por conta da cláusula de “não devolução” do referido estatuto, o Brasil dificilmente deporta ou repatria esses estrangeiros, mas também não permite que se tornem legais.
Por isso, muitos patrícios aqui estão em situação irregular, sem passaporte, e não podem ter emprego registrado, alugar imóveis, ter conta em banco, ganhar na Mega-sena, etc. Ou seja, sem direito mínimo de dignidade e sem poder voltar para casa, por causa da falta de documentação. Em resumo, vagueiam pelo Brasil dependendo de trabalhos informais muitas vezes precários e da ajuda dos outros. Isso, quando não dão a sorte de não cair no sistema prisional e sumirem, por conta da falta de documentação.
As instituições governamentais estão despreparadas para organizar o fluxo migratório para o Brasil, uma vez que a maneira como estruturam seu funcionamento não é, como diria o poeta Cuti, “escurecido”.
A complexidade dos fluxos migratórios no Brasil está gritando por uma reforma. Nós não podemos mais sustentar essas instituições que mais parecem fantasma e alimentam o maquinário racista. Enquanto a burguesia disputa para ver quem decide quem entra e quem sai, muitas Zulmiras são assassinadas para vingar o furor xenofóbico dessa gente bestializada.
A mesma patota que expulsa os africanos do Brasil e os humilha é contra as Cotas,contra a Lei 10.639, etc. Abrir a fronteira para africanos significaria enegrecer o país e dividir oportunidades. Eu topo…
1 Alex Vargem é bacharel em Ciências Sociais pela PUC-SP, formado em Direito Internacional dos Refugiados pelo International Institute of Humanitarian Law, na Itália, e especialista em imigração africana para o Brasil.

Pesquisa mostra desinformação e preconceito entre jovens de 18 a 29 anos


Quatro entre dez jovens acham que mulher que se veste de forma insinuante não pode reclamar de violência sexual
Aline Valcarenghi - Repórter da Agência Brasil
Pouco mais de quatro em cada dez jovens entre 18 e 29 anos concordam, total ou parcialmente, com a ideia de que mulheres que se vestem de forma insinuante não podem reclamar se sofrerem violência sexual e pouco mais de 10% são indiferentes a esse tipo de violência. É o que mostra a pesquisa Atitude e Tolerância: o Que os Jovens Pensam sobre Sexualidade, encomendada pela Caixa Seguros, aprovada pelo Comitê de Ética da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília e feita com o acompanhamento da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) e do Departamento de Doenças Sexualmente Transmissíveis e Aids (DST/Aids) e Hepatites Virais do Ministério da Saúde. Os resultados mostram alto grau de desinformação, preconceito de gênero e contra homossexuais.
Para o coordenador da pesquisa, Miguel Fontes, que é doutor em saúde pública, o machismo ainda está muito presente entre os jovens, “principalmente os homens”. Pouco mais de 9% dos entrevistados concordam ou são indiferentes ao fato de um homem agredir uma mulher porque ela não quis fazer sexo e pouco mais de 11% têm a mesma opinião com relação a homens que batem na parceira que o traiu.
Para a socióloga do Centro Feminista de Estudos e Assessoria (Cfemea) Jolúzia Batista, essa geração de jovens sofreu um avanço conservador nos últimos anos. Na sua opinião, uma educação não sexista nas escolas é fundamental para mudar esse cenário. “Nós vemos que hoje a violência surge como uma forma de colocar a mulher nos trilhos, de corrigi-la. É preciso investir em educação para mudar isso“, defende.
Para a pesquisa foram entrevistados 1.208 jovens entre 18 e 29 anos em 15 estados e no Distrito Federal, sendo 55% mulheres. Os critérios da coleta de dados, feita em 2012, são semelhantes aos adotados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. O trabalho foi concebido e analisado pela John Snow Brasil Consultoria, e a coleta de dados foi feita pela Opinião Consultoria.
Entre os jovens entrevistados, apenas 30% estudam e 56% já foram reprovados no colégio. Mais da metade são católicos e quase um terço, evangélicos. De cada dez, seis acessam a internet com frequência e cinco navegam pelo menos duas horas por dia.  A maioria perdeu a virgindade entre os 14 e os 18 anos, 10% ainda não tiveram relação sexual, 95% se declararam heterossexuais, 3% disseram ser bissexuais e os 2% restantes, homossexuais
Edição: Graça Adjuto // Matéria alterada às 15h11 para corrigir o nome da pesquisa. O correto é Atitude e Tolerância: o Que os Jovens Pensam sobre Sexualidade, e não Juventude, Comportamento e DST/Aids, como estava no texto

Governo Eduardo Campos (PSB-PE) é denunciado à ONU por tortura e morte de jovens sob sua tutela



O descaso do governo Eduardo Campos (PSB-PE) na reeducação de jovens infratores, descumprindo compromissos e deixando de responder a recomendações, inclusive tornando Pernambuco líder em homicídios de jovens dentro das unidades sócio-educativas, levou a Fundação Abrinq, a Organização Save The Children e outras a denunciar violações sofridas por jovens infratores ao conselho de direitos humanos da ONU em Genebra, na Suíça.

Na semana passada, o  Relator Especial sobre execuções extrajudiciais, sumárias ou arbitrárias, Christof Heyns, enviou carta para o Relator Especial sobre tortura e outras formas de tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes, Juan Mendez, denunciando, segundo ele,  “os graves casos de violação ao direito à vida, à integridade pessoal e casos de tortura de adolescentes e jovens em conflito com a lei, em Unidades de Internação (Centro de Atendimento Socioeducativo (CASE) Abreu e Lima, CASE Cabo de Santo Agostinho e CASE Caruaru) da Fundação de Atendimento Socioeducativo (FUNASE), no Estado de Pernambuco, Brasil”.

De acordo com a carta do relator  Suíço Christof Heyns, “As  Unidades de Internação de Pernambuco (Brasil) já aludidas protagonizaram um grave processo de recrudescimento da violência institucional contra os adolescentes e jovens nelas atendidos, resultando na morte de 7 adolescentes/jovens no ano de 2012 (sendo 4 na cidade do Cabo de Santo Agostinho e 3 na cidade de Abreu e Lima) e no ano de 2013, 4 mortes (2 na cidade de Abreu e Lima, 2 na cidade de Caruaru) dentro das instituições, em números oficiais, sem contabilização dos possíveis fatos não publicizados de forma adequada”.

Heyns, informa ainda na carta que  “A Fundação Abrinq e a Organização Save The Children,  farão uma denuncia internacional perante a ONU solicitando, dentre outras, as medidas a seguir:• Requerer informações do Governo Federal e do Governo do Estado de Pernambuco sobre a situação atual da FUNASE: capacidade e contingente de jovens internos atualmente;• Solicitar que medidas mais eficazes sejam tomadas para erradicar a ocorrência de mortes, torturas e outras violações aos direitos humanos nos estabelecimentos da FUNASE”

As intidades Abrinq e a  Save The Children, recomendam  adequar o sistema socioeducativo do Estado de Pernambucano em acordo com as diretrizes do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e do Sistema Nacional de Medidas Socioeducativas (SINASE), sobretudo, garantido ao adolescente em conflito com a lei um tratamento digno, com respeito a sua individualidade, escolarização e profissionalização, além da manutenção de seus vínculos familiares e acesso ao lazer, à cultura e à convivência comunitária.  E ainda recomendam alguns item que acham importantes como:
• Assegurar estrutura física das Unidades de acordo com os parâmetros apresentados pela Lei 12.594/12 (SINASE), em respeito a quantidade de adolescentes por Unidades e por “casas”, a separação por idade, ato infracional e compleição física, assim como espaços para esporte, escola e convivência familiar (41,§3º, 42 e 49, inciso IV SINASE).

• Retomar “Plano de Reordenamento do Sistema Socioeducativo de Pernambuco” (2010-2015), aos parâmetros do SINASE elaborado pelo Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente, garantindo recursos para a construção/reformas das Unidades de Internação, mas salvaguardando as prerrogativas do SINASE;

• Criação de um Plano de Monitoramento, a partir de um Grupo Permanente de Monitoramento e Fiscalização das Unidades da FUNASE, monitoramento previsto nos arts. 9º a 17 do SINASE, resultante de uma atuação mais articulada dos órgãos do sistema socioeducativo, sobretudo do Tribunal de Justiça e Ministério Público, bem como com a sociedade civil organizada (CEDCA e FDCA), respeitando o seu controle social da política socioeducativa, fundamentando relatórios periódicos, processos de visitas técnicas e de fiscalização, produzindo recomendações e, se necessário, provocando audiências públicas com proposituras de ações civis públicas;

• Responder a recomendação do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) de 2011, para o fechamento gradual de duas unidades de internação de adolescentes em conflito com a lei no Estado: o Centro de Atendimento Socioeducativo (Case) do município de Cabo de Santo Agostinho e o Case situado em Abreu e Lima. Além da interrupção da entrada de novos internos nas duas unidades.

• Criação de canal de denúncia para escuta das famílias – possibilidade de denunciar com segurança, sem temer represálias.

Assinam a carta endereçada a o governo de Pernambuco, Eduardo Campos:

ANCED - Associação Nacional dos Centros de Defesa da Criança e do Adolescente, Defensa de Niñas y Niños – Internacional DNI;

CENDHEC - Centro Dom Helder Câmara de Estudos e Ação Social, entidade de Direitos Humanos que atua na Defesa, Promoção e Controle dos Direitos da Criança e do Adolescente;

GAJOP - Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares, ONG de Direitos Humanos com status consultivo especial perante o ECOSOC, através do Programa Direitos Humanos Internacionais;

FUNDAÇÃO ABRINQ - SAVE THE CHILDREN - Organização sem fins lucrativos que tem como missão promover a defesa dos direitos e o exercício da cidadania de crianças e adolescentes.

Jovens negros são hostilizados e humilhados no shopping Parangaba, Fortaleza















Por Maria Frô, em seu blog

Um dos mecanismos de manutenção da escravidão era cercear às custas de grande vigilância e controle o direito de ir e vir dos escravizados. Para isso era vedado aos cativos calçar sapatos. Andar descalço era uma marca da escravidão, uma forma da sociedade senhorial discriminá-los em relação aos livres.

Ontem no Ceará, a primeira província a libertar os cativos, bem no centro do templo do consumo do século XXI humilhou jovens negros, impedindo-os de circularem pelo shopping, lugar de diversão dos adolescentes nas grandes metrópoles.

Impressiona, a barbárie desta falta de vergonha dos donos do Capital em orientar seus gerentes que orientam seus seguranças mal preparados que agem como capatazes não permitindo que meninos negros circulem nos novos latifúndios das metrópoles colonizadas.

O vídeo nos mostra a cor da suspeição dos negros sendo didaticamente esfregada na cara de jovens que aprenderam que no tempo da socialização nos templos do consumo eles não são bem-vindos.

O Haiti é em Fortaleza, a África do Sul do tempo do Apartheid fica em Parangaba.

O relato abaixo acompanha o vídeo, publicado em 26/11/2013 e encaminhado a mim pelo jornalista cearense Alberto Perdigão.




“”Daí a gente chega no shopping Parangaba em Fortaleza para conhecer o novo point de lazer e nos deparamos com uma cena triste :’( … vários jovens sendo expulso do shopping, sem ter nem um motivo.

Perguntei para os seguranças e eles falaram que estavam apenas obedecendo ordens … Agora eu me pergunto: será mesmo que eles têm esse direito de selecionar quem pode ou não entrar no shopp ???

Por que eles estavam indo atrás apenas do jovens negros !?? …

Fico me perguntando como pode isso acontecer ainda nos tempos de hoje !????

Fui e comecei a filmar e perguntei com qual direito eles podiam fazer aquilo!!???

Sabe o que eles me responderam!

“Vão embora a saída é por ali!”

Eu: mas moço por que você está me expulsando do shoop!?
Segurança: estou obedecendo ordens.

Eu: pois então, chama essa pessoa q está dando as “ordens ” pra vir falar comigo, porque daqui eu não saio!

Aí pra piorar mais ainda a situação veio um segurança do shopp tentar tomar meu celular como se ele tivesse esse direito de tomar meu celular”"

O CASO DO SHOPPING PARANGABA

Por: Preto Zezé, em seu Facebook

Alguns amigos meus, me questionam que nem é racismo nem discriminação, pois os seguranças do shopping são moradores de periferia e alguns negros também!

Oras, isso só confirma, o quão sofisticado é o apartheid brasileiro, onde jovens seguranças reproduzem comportamento discriminatórios contra seus semelhantes.

Isso só torna esse ocorrido mais grave ainda!

Detalhe, e mesmo que os jovens estivessem fazendo bagunça, como alguns alegam, o procedimento era inibir e orientar o comportamento, afinal esse é o papel dos seguranças!

Reafirmo o que disse, se confirmar o caso de discriminação, processo e um curso de formação para os seguranças.

Aos que acham que o shopping está no direito de selecionar seus frequentadores, ok!


Só coloquem placas no seus estabelecimentos definindo os padrões estéticos e econômicos de quem pode frequentá-lo. Assim , o dito apartheid velado, mostrará sua cara!

Via, Folha Social

Cultura Brasileira: da diversidade à desigualdade


Mesmo admitindo a existência de diversos estudos e discussões antropológicas sobre o conceito de cultura, podemos considerá-la, grosso modo, da seguinte forma: a cultura diz respeito a um conjunto de hábitos, comportamentos, valores morais, crenças e símbolos, dentre outros aspectos mais gerais, como forma de organização social, política e econômica que caracterizam uma sociedade. Além disso, os processos históricos são em grande parte responsáveis pelas diferenças culturais, embora não sejam os únicos fatores a se considerar. Isso nos permite afirmar que não existem culturas superiores ou inferiores, mas sim diferentes, com processos históricos também diversos, os quais proporcionaram organizações sociais com determinadas peculiaridades.

Dessa forma, podemos pensar na seguinte questão: o que caracteriza a cultura brasileira? Certamente, ela possui suas particularidades quando comparada ao restante do mundo, principalmente quando nos debruçamos sobre um passado marcado pela miscigenação racial entre índios, europeus e africanos.

A cultura brasileira em sua essência seria composta por uma diversidade cultural, fruto dessa aproximação que se desenvolveu desde os tempos de colonização, a qual, como sabemos, não foi, necessariamente, um processo amistoso entre colonizadores e colonizados, entre brancos e índios, entre brancos e negros. Se é verdade que portugueses, indígenas e africanos estiveram em permanente contato, também é fato que essa aproximação foi marcada pela exploração e pela violência impostas a índios e negros pelos europeus colonizadores, os quais a seu modo tentavam impor seus valores, sua religião e seus interesses. Porém, ao retomarmos a ideia de cultura, adotada no início do texto, podemos afirmar que, apesar desse contato hostil num primeiro momento entre as etnias, o processo de mestiçagem contribuiu para a diversidade da cultura brasileira no que diz respeito aos costumes, práticas, valores, entre outros aspectos que poderiam compor o que alguns autores chamam de caráter nacional.

A culinária africana misturou-se à indígena e à europeia; os valores do catolicismo europeu fundiram-se às religiões e aos símbolos africanos, configurando o chamado sincretismo religioso; as linguagens e vocabulários afros e indígenas somaram-se ao idioma oficial da coroa portuguesa, ampliando as formas possíveis para denominarmos as coisas do dia a dia; o gosto pela dança, assim como um forte erotismo e apelo sexual juntaram-se ao pudor de um conservadorismo europeu. Assim, do vatapá ao chimarrão, do frevo à moda de viola caipira, da forte religiosidade ao carnaval e ao samba, tudo isso, a seu modo, compõe aquilo que conhecemos como cultura brasileira. Ela seria resultado de um Brasil-cadinho (aqui se fazendo referência àquele recipiente, geralmente de porcelana, utilizado em laboratório para fundir substâncias) no qual as características das três “raças” teriam se fundido e criado algo novo: o brasileiro. Além disso, do ponto de vista moral e comportamental, acredita-se que o brasileiro consiga reunir, ao mesmo tempo, características contraditórias: se por um lado haveria um tipo de homem simples acostumado a lutar por sua sobrevivência contra as hostilidades da vida (como a pobreza), valorizando o mérito das conquistas pessoais pelo trabalho duro, por outro lado este mesmo homem seria conhecido pelo seu “jeitinho brasileiro”, o qual encurta distâncias, aproxima diferenças, reúne o público e o privado.

Ainda hoje há quem possa acreditar que nossa mistura étnica tenha promovido uma democracia racial ao longo dos séculos, com maior liberdade, respeito e harmonia entre as pessoas de origens, etnias e cores diferentes. Contudo, essa visão pode esconder algumas armadilhas. Nas ciências sociais brasileiras não são poucos os autores que já apontaram a questão da falsidade dessa democracia racial, apontando para a existência de um racismo velado, implícito, muitas vezes, nas relações sociais. Dessa forma, o discurso da diversidade (em todos os seus aspectos, como em relação à cultura), do convívio harmônico e da tolerância entre brancos e negros, pobres e ricos, acaba por encobrir ou sufocar a realidade da desigualdade, tanto do ponto de vista racial como de classe social. Ainda hoje, mesmo com leis claras contra atos racistas, é possível afirmarmos a existência do preconceito de raça na sociedade brasileira, no transporte coletivo, na escola, até no ambiente de trabalho. Isso não significa que vivamos numa sociedade racista e preconceituosa em sua essência, mas sim que esta carrega ainda muito de um juízo de valor dos tempos do Brasil colonial, de forte preconceito e discriminação. Além disso, se a diversidade cultural não apagou os preconceitos raciais, também não diminuiu outro ainda muito presente, dado pela situação econômica-social do indivíduo.

É preciso considerar que a escravidão trouxe consequências gravíssimas de ordem econômica para a formação da sociedade brasileira, uma vez que os negros (pobres e marginalizados em sua maioria) até hoje não possuem as mesmas oportunidades, criando-se uma enorme distância entre as estratificações sociais. Como sugere o antropólogo Darcy Ribeiro, mais do que preconceitos de raça ou de cor, têm os brasileiros um forte preconceito de classe social.

Dessa forma, o Brasil da diversidade é, ao mesmo tempo, o país da desigualdade. Por isso tudo é importante que, ao iniciarmos uma leitura sobre a cultura brasileira, possamos ter um senso crítico mais aguçado, tentando compreender o processo histórico da formação social do Brasil e seus desdobramentos no presente para além das versões oficiais da história.

Paulo Silvino Ribeiro
Colaborador Brasil Escola
Bacharel em Ciências Sociais pela UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas
Mestre em Sociologia pela UNESP - Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho"
Doutorando em Sociologia pela UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas

Via CEDEESPE

Apesar dos dados ALARMANTES de violência contra as mulheres, Pernambuco é o único estado que não aderiu ao programa CASA DA MULHER BRASILEIRA


A ministra da Secretaria de Política para as Mulheres, Eleonora Menicucci, criticou neste domingo (10) a não adesão do governo de Pernambuco ao programa federal Casa da Mulher Brasileira, estrutura que agrega vários órgãos públicos para assistência à mulher vítima de violência.

Em setembro, a cúpula do PSB, partido presidido pelo governador de Pernambuco, Eduardo Campos, dedidiu entregar os cargos que a sigla detinha em ministérios e deixar o governo federal. Campos é o possível candidato do partido a presidente da República em 2014.

Segundo a ministra, a justificativa oficial dada pelo governo pernambucano para a ausência no programa foi a de que o estado já tinha uma rede de proteção própria. Mas ela disse acreditar que houve motivação política.

"Todas as afirmações que me fizeram é que havia lá uma rede construída. Essa rede construída é com o nosso dinheiro, do governo federal, que é um pacto de enfrentamento (de violência de gênero), que é descentralizado para lá", afirmou. Questionada novamente sobre o motivo, respondeu: "Evidentemente que eu só posso pensar que tem uma questão política aí", afirmou a ministra antes de votar nas eleições internas do PT, na sede do partido, em Brasília.

G1 tenta contato com a assessoria para ouvir a versão do governo de Pernambuco sobre as afirmações da ministra.
Segundo Eleonora Menicucci, Pernambuco foi o único estado que não aderiu ao programa. Ela disse que o governador Eduardo Campos não estava em Recife na ultima quinta, quando foi à capital pernambucana para assinar a parceria com o governo estadual.

"Eu negociei até quinta-feira, quando estive lá para entregar os ônibus, mas na verdade, ele não estava. Estava lá o vice-governador porque [Eduardo Campos] estava na Alemanha", disse a ministra.

No programa Casa da Mulher Brasileira, o governo federal paga a infraestrutura das unidades, mas os responsáveis pela instalação e manutenção dos serviços oferecidos são os governos estaduais e as prefeituras, juntamente com os Judiciários locais.

Do, G1-PE

Escola nos EUA ameaça expulsar aluna com cabelo crespo e armado

Uma menina de 12 anos foi ameaçada de expulsão pela escola particular onde estuda na Flórida, nos Estados Unidos, caso não cortasse e mudasse o estilo de seu cabelo. Vanessa VanDyke tem os cabelos crespos e com volume, e segundo sua família, recebeu o prazo de uma semana para decidir se iria cortar os fios ou deixar a escola, de acordo com a emissora de TV “WKMG”.
O caso gerou muita repercussão nos EUA, e a escola Faith Christian Academy de Orlando disse nesta semana que não está exigindo que a menina corte os cabelos para continuar frequentando o estabelecimento – eles “apenas” querem que ela mude seu estilo.
De acordo com a família de Vanessa Van Dyke, na última semana um conselheiro da escola advertiu a mãe da menina para que ela alisasse ou cortasse seu cabelo – ou a criança poderia ser expulsa.
A família não cogitou fazer as mudanças, pois o cabelo da menina faz parte de sua identidade. “Ele mostra que sou única. Eu gosto desta maneira. Eu sei que as pessoas vão me provocar porque ele não é liso, mas eu não ligo”, contou Vanessa.
A escola onde Vanessa estuda tem códigos de vestimentas e regras sobre como os alunos podem usar seus cabelos. “Os cabelos devem estar na cor natural e não devem ser uma distração”, dizem as regras, que citam como exemplos que não podem ser utilizados moicanos e raspados.
“Uma distração para uma pessoa não é distração para outra”, diz a mãe da menina, Sabrina Kent. “Você pode ter uma criança com espinhas no rosto. Você vai chamar isso de distração?”
Vanessa contou que usa seu cabelo longo e armado desde o início do ano, mas ele se tornou uma questão para a escola depois que sua família reclamou das provocações feitas pelas outras crianças.
“Houve pessoas que a provocaram por seu cabelo, e me parece que estão culpando-a por isso”, disse Sabrina. “Vou lutar pela minha filha. Se ela quer usar o cabelo assim, ela vai mantê-lo assim. Há pessoas que podem pensar que usar o cabelo natural não é apropriado. Mas ela é bonita assim.”
Responsáveis pela escola disseram em um comunicado que não estão pedindo que a menina use produtos ou corte seu cabelo, mas que ela o modele de acordo com as regras da escola.

Desmilitarizar: bom começo para uma segurança democrática

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A irracionalidade fardada que ocupou os telejornais e as ruas durante os protestos de junho serviu para recolocar na agenda pública um debate que ainda não foi encarado de forma suficiente pela sociedade. Até quando vamos tolerar ser vigiados, perseguidos, controlados, encarcerados e violentados pelas forças do Estado?
por Movimento Mães de Maio, DAR – Desentorpecendo a Razão LE MONDE DIPLOMATIQUE
No dia 5 de outubro, completaram-se 25 anos da promulgação da Constituição Federal. Ao contrário dos que se recordaram da data para celebrar a “Constituição cidadã” ou um suposto início de uma nova etapa de democracia e liberdades civis no país, para nós essa ocasião foi de protesto – assim como o dia 2 de outubro, aniversário de 21 anos do Massacre do Carandiru.
Essas duas datas têm mais do que o começo de outubro em comum. Elas estão tão imbricadas quanto violência e desigualdade social, autoritarismo e racismo, Estado penal e capitalismo: fazem parte de um olhar sobre a história de nosso país que invariável e inevitavelmente nos remete ao sofrimento dos de baixo e ao autoritarismo excludente dos de cima – desde que o Cabral era outro e os Amarildos caminhavam descalços por nossas matas ainda preservadas.
Nosso texto constitucional, no papel até relativamente avançado e garantidor de direitos, deveria ser a consolidação legal de uma transição que poria fim ao ordenamento jurídico e político constituído durante os 21 anos da ditadura civil-militar iniciada em 1964. No entanto, se há algo que os de baixo sabem mais do que ninguém é que o papel e as campanhas políticas aceitam tudo e que a prática é que é o critério da verdade. Será que o legado autoritário e ditatorial foi concretamente superado? Aonde nos levará o eterno discurso do “aprofundamento da democracia”?
Somente em maio de 2006, durante ofensiva do estado paulista contra a população pobre, justificada por uma suposta reação a ataques do PCC, foram executadas e dadas como desaparecidas mais pessoas do que todos os assassinatos políticos oficialmente contabilizados durante o regime civil-militar brasileiro, que teria ceifado 426 vidas de ativistas políticos (os números certamente são maiores e estão em constante revisão).
Se a brutalidade de maio poderia soar como exceção, na verdade ela não passa da regra. Entre 2001 e 2011, o número oficial de mortos por policiais militares em serviçoapenas no estado de São Pauloé de 5.591. A média é de 508 mortos por ano, apenas em um dos 26 estados brasileiros! E nós sabemos que os números são bem maiores, posta a prática cada vez mais comum das chacinas por policiais à paisana, em carros pretos com insulfilm ou em motos com garupa – um modus operandi com inúmeros indícios da participação de agentes da lei, a começar pelo emprego de munições de uso restrito em muitos casos. A polícia brasileira é uma das mais letais do mundo, além de ser uma das mais violentas, corruptas, racistas e desacreditadas. Inclusive para seus próprios membros, situação que fica explicitada pelo alto número de suicídios entre integrantes da corporação.
“A polícia sempre dá o mau exemplo/ lava minha rua de sangue/ leva o ódio pra dentro”, cantavam os Racionais MC’s nos anos 1990, e de lá para cá o desprezo das classes populares pelos funcionários do Estado que deveriam garantir sua segurança não teve um motivo sequer para diminuir.
A irracionalidade fardada que ocupou os telejornais e as ruas durante os protestos de junho pelo Brasil afora só serviu para recolocar na agenda pública um debate que, apesar de sempre urgente, ainda não foi encarado de forma suficientemente consequente por nossa sociedade: até quando vamos tolerar ser vigiados, perseguidos, controlados, encarcerados e violentados pelas forças do Estado? Que alternativas há para mudar esse quadro?
Lógica de guerra para gerir os trabalhadores pobres
Levantamento realizado pelo próprio Instituto Sou da Paz – entidade que tem convênios com o governo estadual e é, portanto, insuspeita de inflar as estatísticas – mostra que 93% dos mortos em supostos tiroteios com a Polícia Militar de São Paulo entre 2001 e 2010 moravam na periferia da cidade. Cinquenta e quatro por cento eram negros ou pardos. Os números mostram um quadro que é o mesmo desde as 111 mortes comandadas pelo coronel Ubiratan e pelo governador Fleury em 1992, no Carandiru: é assim que os pretos e os quase pretos de tão pobres são tratados, como bem narra a canção de Caetano e Gil.
O militarismo que historicamente se instaurou nesse processo chamado Brasil não é só uma forma de repressão ou de proteção da propriedade privada. É uma maneira de gerir populações. A novidade é que agora nossos presos, mortos e desaparecidos têm nome, deixaram de ser estatísticas ou “efeitos colaterais” de planos de valorização imobiliária ou de grandes eventos esportivos e comerciais. Deixaram de ser “o traficante”, “o elemento suspeito de cor padrão” “que tinha passagem”, “o bandido que trocou tiros com a polícia”, para ser o ajudante de pedreiro que ganhava R$ 300 por mês, o funcionário terceirizado que buscava restabelecer sua vida depois do período passado no cárcere etc. A indignação pelas mortes de Ricardo e Amarildo vai além da revolta contra a tortura, os assassinatos e os desaparecimentos forçados; ela é a gota d’água para escancarar uma realidade com a qual cada vez menos pessoas podem aceitar conviver – sob pena de serem as próximas vítimas.
A Polícia Militar brasileira se organiza e trabalha historicamente sob a lógica da guerra e vê nos pobres e nos divergentes os inimigos a serem combatidos, exterminados. Não é à toa que o discurso mais usado para legitimar os extermínios praticados pelas forças estatais é o de “combate ao tráfico”. A guerra às drogas não é, apesar do nome, uma guerra contra substâncias. Guerras são contra pessoas. Vivemos todos, portanto, em uma guerra, como qualquer outra, com ocupações militares, mortes, prisioneiros de guerra, botim de guerra, contrainformação. E com uma característica peculiar: o Estado a dirige contra (alguns de) seus próprios cidadãos − que “custam menos que a bala que os mata”, nas palavras de Eduardo Galeano.
“Querem controlar, mas são todos descontrolados”
De acordo com a Anistia Internacional, em 2011 foram executadas 276 pessoas em vinte países que adotam a pena de morte. No Brasil, onde a legislação não dá ao Estado o direito de tirar a vida de ninguém, durante o mesmo período foram oficialmente mortas 961 pessoas em ações policiais. “Era traficante.” Parece ser a saída mágica para legitimar a aplicação da pena de morte no país. Existem algumas categorias sociais que simplesmente são matáveis. Assim, a proibição das drogas e a lógica militar se retroalimentam, com o mercado ilegalizado, a fim de seguir existindo, mimetizando a militarização que o combate.
A Polícia Militar é, ainda, altamente hierarquizada e intransigente com seus escalões inferiores, que transferem para os cidadãos a lógica de medo e desumanidade à qual são submetidos desde seu primeiro dia de treinamento. Para coroar o quadro, a PM oferece péssimas condições trabalhistas a pessoas que, por meio de seu poder, podem influir em mercados ilegais altamente lucrativos, o que gera um nível de corrupção só comparável ao do Congresso Nacional.
Em relação aos “abusos”, a resposta é o descontrole. A justiça militar permite que os crimes cometidos por policiais sejam julgados por seus próprios pares, e a enorme maioria dos integrantes do Poder Judiciário (exceção feita às ainda frágeis defensorias públicas) é conivente, legitimadora e até incentivadora da violência policial que deveria controlar externamente. Sem qualquer controle independente ou confiável, a PM emerge de maneira autoimune.
Pessoas são agredidas em manifestações, torturadas em delegacias e chacinadas em bares de suas quebradas, e as respostas oficiais são sempre da mesma ordem de cinismo: “A polícia está investigando os fatos e os possíveis responsáveis serão punidos”. E “que se foda minha mãe”, como canta Mano Brown.
Passados mais de 25 anos da proclamada Constituição cidadã, o Estado brasileiro ainda não formulou nenhuma política efetiva de assistência e reparação às vítimas e seus familiares (covítimas) da violência policial, conforme determinam o artigo 245 do texto magno e diversas resoluções internacionais das quais o país é signatário – por exemplo, a Declaração dos Princípios Básicos de Justiça Relativos às Vítimas de Abuso de Poder, da ONU.
Desmilitarizar as polícias
Evidentemente, as causas que levaram o Brasil a ser tão violento, excludente e discriminatório são antigas, diversas e complexas. No entanto, é igualmente claro que a constatação do tamanho do problema não pode significar imobilidade diante do imperativo de enfrentá-lo, mesmo que seja por meio de medidas parciais, paliativas. Iniciais.
Uma delas, que surgiu depois de junho como bandeira de diversos movimentos e setores sociais, é a desmilitarização das polícias, algo que para nós faz sentido dentro de um projeto mais amplo de desmilitarização do conjunto da vida social e, no limite, de resistência e transformação. Se para atingirmos o mundo que buscamos é necessário muito mais do que uma polícia desmilitarizada, certamente ele não é sequer imaginável dentro do atual cenário.
Diante do imenso desafio de pensar soluções concretas, vamos caminhando com perguntas, exigências mínimas, e temos bastante claro o que não queremos. Não visamos ao fortalecimento de um policiamento civil. Tampouco nos faz diferença que coloquem a palavra “paz” no nome da polícia, que continua perpetuando as ocupações de territórios, os extermínios e os desaparecimentos em plena “democracia”. Precisamos da desconstrução de uma lógica e de práticas, não de aulas de direitos humanos em meio ao treinamento de capitães nascimentos.
Por estar estabelecida na Constituição, a militarização legalmente precisa ser revertida por meio de proposta de emenda constitucional. Como movimentos autônomos, não temos esperanças que partam do Estado as mudanças que o desestruturarão. Mas acreditamos na pressão e na força dos de baixo, e, nessa caminhada rumo a uma mudança de mentalidade ampla, que abarque o militarismo das instituições e também de nosso cotidiano e vida, vemos algumas medidas concretas como necessárias e urgentes a curto prazo.
É preciso fortalecer o controle externo pela sociedade civil da atividade policial e judicial, bem como a autonomia das perícias criminais. O fortalecimento da Defensoria Pública da União e das defensorias públicas estaduais, além da criação de outros mecanismos de assessoria jurídica popular autônoma, igualmente se fazem prementes.
Outras medidas importantes seriam a criação imediata de mecanismos de combate à tortura (incluindo limitações às armas menos letais), a melhoria das condições das prisões e instituições de medidas socioeducativas, começando pelo reforço de amplos mutirões carcerários que avancem no desencarceramento imediato das pessoas ilegalmente presas (provisórios tornados permanentes; presos em regime fechado quando deveriam estar em semiaberto etc.), e a criação emergencial de uma Política Nacional de Reparação Integral às Vítimas Torturadas e às Famílias de Vítimas do Estado Brasileiro (reparação psíquica, moral, física e material).
Defendemos ainda o fim do crime de desacato e a aceleração de medidas para a federalização (deslocamento de competência) dos crimes de maio de 2006 no estado de São Paulo e o avanço no direito à memória, verdade e justiça para as vítimas do Estado, da ditadura e de hoje, com a possível criação de uma Comissão Nacional da Verdade e Justiça para os Crimes do Estado Democrático.
No entanto, como dito anteriormente, seria ingenuidade ou má-fé acreditar que apenas um controle externo e a desmilitarização das práticas policiais resolveriam o problema da violência estatal em nosso país. Assim como a cultura do cárcere transborda cada vez mais para fora dos muros da prisão, dado o imenso e crescente índice de encarceramento, também a militarização das práticas institucionais abarca uma série de outros âmbitos da vida, contra o que são necessários muito mais avanços e transformações do que ajustes legais e institucionais urgentes como os que propusemos anteriormente.
A questão do encarceramento em massa e da generalizada lógica penal-punitiva (inclusive entre pessoas “de esquerda”) é, inclusive, crucial nessa discussão. Desde o Massacre do Carandiru, nos dois lados dos muros, os massacres contra a juventude negra só aumentaram. Muro adentro, a população carcerária cresceu mais de 300% de 1992 para cá, contra aproximadamente 30% de crescimento da população em geral. Hoje são quase 600 mil pessoas presas em celas superlotadas, cerca de 270 mil apenas em São Paulo, sem acesso às assistências médica, social e jurídica, nem a qualquer oportunidade de estudo ou trabalho. Mais de 60% da população carcerária é formada por negros e jovens, 90% nem sequer completou o ensino médio e cerca de 80% está presa por acusação de crimes contra o patrimônio ou por pequeno tráfico de drogas. Mais punições e prisões resolverão o quê?
De tão evidente, chega a ser redundância falar em já basta. Junho de 2013 foi só mais um passo na explicitação dessa digna raiva, que tem raízes muito mais fortes do que quaisquer desses discursos que se importam mais com (determinadas) vidraças do que com (determinadas) vidas. Outra redundância? Vândalo mesmo é o Estado, “respeito é pra quem tem”. Desmilitarizá-lo é um passo para pelo menos equilibrar um pouco a luta cotidiana por dias melhores.
Movimento Mães de Maio
Combate a violência estatal desde que ela o gerou, em maio de 2006, e integra a Rede Nacional de Familiares e Amigos de Vítimas do Estado. Página do Facebook: https://www.facebook.com/maes.demaio
DAR – Desentorpecendo a Razão
Coletivo antiproibicionista de São Paulo, fundado em 2009, é um dos organizadores da Marcha da Maconha-SP e membro da rede autônoma Protesta. Site: coletivodar.org.

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