VEREADOR FAZ APOLOGIA A MORTE DE PESSOAS VIVENDO EM SITUAÇÃO DE RUA.

'Mendigo deveria virar ração para peixe', diz vereador de Piraí, RJ.

Pessoas do bem... Para onde caminha a sociedade brasileira na mão dos INTOLERANTES, PRECONCEITUOSOS e FUNDAMENTALISTAS?

Como se não bastasse o INDIO GALDINO queimado vivo no Distrito Federal com a justificativa de que seus algozes acreditavam que fosse um mendigo; como se não bastasse o inFeliciano chamar (com grande arroto e apoio de parte dos ‘cristãos fundamentalistas), a POPULAÇÃO NEGRA E AFRICANA de amaldiçoados por Deus; como se fossemos condenados a assistir diuturnamente o genocídio da JUVENTUDE NEGRA e da população POBRE, como se fossemos obrigados a ouvir as barbáries de Bolsonaro, Marina Silva, Silas Malafaia e toda a quadrilha do mal, do conservadorismo e desrespeito a DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS e os TRATADOS que o Brasil é signatário. 

O parlamento tem um setor conservador que saudosos que são do período do regime militarizado externam seus sentimentos fascistas e preconceituosos para imperar seus interesses teocráticos e excludentes.

Desta vez, como se não bastasse à atrocidade cometida à família do AMARILDO ex-morador da rocinha, morto de maneira covarde e cruel por seus algozes travestidos de SERVIDORES DE SEGURANÇA PÚBLICA, como se achasse pouco a covarde atitude ceifando a vida do jovem Douglas Rodrigues, vem o vereador JOSÉ PAULO OLIVEIRA do PT do B no Rio de Janeiro, que deveria está legislando em prol dos munícipes de Piraí, do púlpito, da tribuna daquela casa legislativa faz apologia contra as pessoas VIVENDO EM SITUAÇÃO DE RUA. 

Deveria esse monstro-vereador propor politicas públicas de inclusão social, que valorasse o ser humano, os que votaram e os que não votaram nele. Pois, depois de eleito é vereador do município e não do crime organizado, do ódio, da apologia aos diferentes em credo, cor de pele, sexualidade ou religião. 

Meu apelo é que possamos ter isto como exemplo e perceber a importância do voto. Para depois de eleitos não possamos sentir-se cumplice dessas atrocidades de políticos que querem impor suas ideias religiosas, racistas, intolerantes religiosos, machistas e fadados a promoverem o mal à sociedade.

PELA PERDA DO MANDATO E EXPULSÃO DA VIDA PUBLICA DOS FASCISTAS QUE VIOLENTAM OS DIREITOS HUMANOS E FAZEM APOLOGIA AO VANDALISMO COM A PESSOA HUMANA.  

Feliz Aniversário Luiz Inácio LULA da Silva.

É fato o orgulho de está ao seu lado nesta foto, neste partido, nesta construção de um mundo melhor e ao lado de um ex-operário, ex-sindicalista, ex-metalúrgico que presidiu o Brasil e se tornou referencia internacional no combate a fome e a pobreza e na democratização do acesso a universidade publica e particular. 

Fico a imaginar o quanto os conservadores, os extremistas, os defensores das ações do DOI-CODI, do AI-5, da ditadura militar; os fundamentalistas, os defensores do racismo, os amantes da homofobia e do ódio se inquietam com tantas politicas afirmativas que promoveste, na tentativa de garantir a equidade social. 

Nestes últimos dez anos o país mudou de cara, mesmo sem chegarmos ainda à perfeição; pois como humanos que somos, ainda há muito por fazer. 
Portanto, é inegável sua preocupação com o coletivo, com as pessoas, com os direitos individuais e coletivos, com o Brasil e com o mundo. 

Sua coragem e determinação por um mundo mais justo ultrapassou a década de 60, das escopetas, do pau-de-arara, das torturas, da perseguição politica, das insinuações do bicho papão. 

Na verdade: “A ESPERANÇA VENCEU O MEDO”, e o nosso país viu e participou do ensinamento da pesca em busca da qualificação profissional, da realização de sonhos, da saída de milhões da condição da pobreza e miserabilidade. 

Estamos juntos companheiro e comandante.

FELIZ ANIVERSÁRIO!

Paradoxos do desenvolvimento - Mulheres pagam uma conta alta pelo crescimento alavancado por Suape

De, Aurora - Diario de Pernambuco - André Duarte (texto) -  Alcione Ferreira (fotos)

Um debate reunindo feministas, engravatados da Petrobras e gestores públicos do litoral Sul de Pernambuco chegou a um entendimento: as janelas dos ônibus que transportam os trabalhadores do Porto de Suape teriam que ser fechadas. Àquela altura, final do primeiro quadrimestre deste ano, a ideia era impor um freio nas gracinhas disparadas contra mulheres no caminho até os canteiros e fábricas. Outras queixas, no entanto, convergiam para um problema bem mais complexo que uma cantada de mau gosto. No rastro do festejado polo de desenvolvimento que concentra mais de 60 mil pessoas, a maioria homens, algumas cidades do entorno tomaram subitamente um atalho entre o passado sucroalcooleiro patriarcal e a realidade industrial competitiva. Algo inegavelmente positivo em sua essência econômica, mas não menos machista na engrenagem.


A avalanche de trabalhadores de outros estados que aportou na região e fincou residência em municípios como Cabo de Santo Agostinho e Ipojuca acabou potencializando situações diárias de tensão de gênero, muitas delas subnotificadas por uma espécie de cultura do medo capaz de corromper a autoestima. De um comentário atrevido em um bar a uma agressão física causada por ciúme, os casos pulverizam-se em diversas variações de violência contra as mulheres, tendo como alvo preferencial aquelas nascidas no Eldorado pernambucano. Assédio, gravidez na adolescência, prostituição e ameaças dentro do núcleo doméstico, temas recorrentes no histórico rural da região, agora multiplicam-se numa lógica de convivência social previsível.

A chegada da mão de obra massivamente masculina, que depois do expediente se materializa no vizinho de rua, no cliente da padaria ou da fila do banco, tem gerado atritos cotidianos com desdobramentos na Polícia e na Justiça, que diante de uma demanda crescente criaram, há menos de um ano, a primeira Delegacia da Mulher e a primeira Vara da Família no Cabo. Com salário-base que gira em torno de R$ 2,5 mil, operários de todo o país também atracaram com suas inquietações pessoais dentro das malas, o que, em parte, dá capilaridade aos atritos.

Divididos entre a opção de desembolso de até um terço do rendimento mensal para alugar uma casa na região ou aboletar-se em alojamentos com até 3 mil homens, cerca de 40% da massa trabalhadora orbita nas cercanias do empreendimento-mãe da propalada pujança pernambucana. Entre os casados, geralmente resta a distância da mulher e dos filhos, o que não raro desmorona uniões Brasil afora ou descamba em casos extraconjugais. “O aluguel de uma casa aqui em Gaibu (praia do litoral do Cabo) custa entre R$ 800 e R$ 900. Nossa folga de campo é de dois dias a cada três meses. Não compensa trazer a família, e fica muito difícil viajar”, situa o soldador sergipano Antônio Carlos da Silva, 25 anos, há três trabalhando em Suape. Com duas filhas em Aracaju, desfez o casamento no estado natal, até então mantido por telefone, “porque já não estava dando certo”. Se não é exatamente um conto de fadas, a história afetiva do soldador, que agora é noivo de uma pernambucana, ainda não é ingrata com a parte nativa, geralmente desprotegida e fadada ao abandono assim que o contrato acaba.

Os números são difusos e não há unificação dos dados internos das mais de uma centena de empresas instaladas no complexo portuário, mas estima-se que apenas 4% da massa de assalariados da Refinaria Abreu e Lima, por exemplo, seja formada por funcionárias, a maioria tocando a vida em subempregos como copeira e auxiliar de serviços gerais. Algo fácil de ser fisgado num simples passeio pelo centro caótico do Cabo. Com ruas nervosas, comércio popular vigoroso e controle urbano precário, a cidade vive um desfile sem fim de fardamentos coloridos dos trabalhadores, em que pouco se veem modelos femininos.

ONGs que trabalham há décadas com questões de gênero declaram que o progresso impulsionado pela chegada dos navios e fábricas em terras de aridez social ainda não beneficiou, na prática, o cotidiano das habitantes, tampouco recheou de carimbos suas carteiras de trabalho. Entidades internacionais e locais, como a ActionAid e SOS Corpo, encabeçam ações e campanhas para expor o vácuo. Algo que Nivete Azevedo, uma professora municipal de geografia que entrou na militância feminista meio por acaso, já faz desde 1994, quando ingressou no Centro de Mulheres do Cabo, do qual é coordenadora. “Tem uma relação social e cultural estabelecida na nossa sociedade machista e patriarcal, mas o fato de a população que chegou abruptamente aqui ser majoritariamente masculina agravou muito a situação. Esse convívio meio que forçado fez com que nós, mulheres, tomássemos um susto. A gente não se reconhece mais, não sente segurança de andar, o assédio é uma coisa absurda”.

De todas as bandeiras empunhadas há 29 anos pela organização, começando pelo abastecimento d’água, melhoria da saúde ginecológica, luta por creches e alfabetização, a tentativa pela retomada de uma relação de gênero equilibrada tem sido uma batalha hercúlea contra dois contrapesos: a tradição canavieira calcada no papel central do homem e o modelo de desenvolvimento rebocado ostensivamente pela força do capital. “O Cabo é uma cidade provinciana, com forte influência do rural, da cana. A partir da década de 1960, as primeiras indústrias selecionavam quem poderia estar com esses empregos, que já exigiam conhecimento mais técnico. Eram poucas pessoas que conseguiam ser operárias. Muitas mulheres foram para a construção civil, para o comércio ou continuaram na cana ou em subempregos de Suape. É a extensão do trabalho reprodutivo”, diz Nivete.

Na última década, fenômenos isolados tomaram corpo, juntamente com o inchaço populacional masculino. A exploração de adolescentes tem feito de espetinhos e barracas, muitas localizadas nas proximidades de escolas, cenários comuns dessas abordagens: “Trazer as novinhas é o que mais atrai. É assim nas obras da usina de Belo Monte, no Pará; no complexo petroquímico do Rio de Janeiro”, diz Nivete. É quando as indefectíveis roupas de trabalho surgem como uma espécie de “conto da farda”, muitas vezes vislumbrada como um guindaste social por gerações inteiras de meninas com pouca ou nenhuma perspectiva profissional. “Os homens de farda são estereótipos.  
Símbolos de uma condição de vida, de dinheiro. Eles se sentem como representantes do poder e usufruem disso”, diz Nivete, engatando uma ponderação: “É muito cômodo para as empresas trazerem esses homens sem suas famílias, com trabalhos temporários. Então, qual é o lazer deles? Esses homens vão fazer o quê depois do trabalho? A diversão vira a rua, as mulheres. Eles têm que extravasar”.


ecos da casa-grande

O pai de Samita Silva e os tios de Letícia dos Santos Dias, ambas estudantes de 18 anos do último ano do ensino fundamental, trabalham no complexo de Suape. Amigas de longa data, caminhavam juntas até a escola estadual quando foram abordadas pela reportagem com perguntas sobre o tal assédio com sotaque de fora. Devolveram as perguntas com colocações monossilábicas e um desinteresse crônico no assunto. Uma conversa travada que descambou para os planos de vida da dupla, a menos de dois meses do encerramento do ano letivo. Outro breque: nenhuma sabia o que fazer em 2014, e nunca conversaram com os pais sobre o assunto.

A economista Tânia Bacelar, sócia da consultoria Ceplan e professora da pós-graduação em geografia da Universidade Federal de Pernambuco, afirma que o “surto de investimentos” não pode ser o único vilão de uma monocultura machista por natureza. “Suape agravou, mas a história econômica da região já impunha um papel de submissão às mulheres. O corte da cana embrutece. É um trabalho ingrato. Muitas mulheres foram tratadas pelos maridos embaixo de pau”. Há dois anos, a especialista em planejamento participou da coordenação de um estudo encomendado pelo governo estadual para o território de Suape que apontou, entre fatores positivos e negativos, dois pontos preocupantes: picos de gravidez na adolescência e violência doméstica. “Concentrar de uma só vez cerca de 40 mil trabalhadores em um empreendimento como a refinaria, sendo a enorme maioria homens, não é um fato normal. Em qualquer lugar do mundo causaria problemas”. A planilha apresentada pela Secretaria de Saúde do Cabo mostra que, desde 2001, entre 23% e 30% de todos os bebês tinham mães com menos de 19 anos. Somente no ano passado foram quase 900 partos, mas não há indicação sobre a origem dos pais.

“São meninas novas e pobres, de engenho, que viram objetos nas mãos desses trabalhadores. Elas veem naquela farda uma mudança de vida. Só que não é bem assim. Eles têm esposas lá fora, têm filhos. Elas dificilmente são ‘assumidas’, e muitas vezes engravidam”, relata a ambulante Cirleide Cristina da Silva, 44, levando à frente um semblante castigado, que lhe confere uma aparência de uns 15 anos a mais que a idade. Ela reitera a tese da economista com a autoridade empírica de quem sofreu durante duas décadas agressões físicas praticadas pelo ex-marido. Há sete anos, no dia 22 de setembro de 2006, entrava pela primeira vez em uma delegacia para denunciá-lo, o que foi fundamental para mantê-lo preso por quatro meses. Deixou o depoimento como um símbolo na luta contra a violência doméstica por ter sido a primeira a mulher vítima do Cabo a virar o jogo contra o agressor.

Na ocasião, a filha mais velha, igualmente engolida pela violência de casa, mas farta da figura paterna opressora, buscou secretamente refúgio em cursos do Centro de Mulheres do Cabo e voltou com uma novidade para a mãe, apresentada como salvação: um panfleto explicando didaticamente os desdobramentos da Lei Maria da Penha, recém-aprovada. “Antes disso, não adiantava prestar queixa, porque ele ia fazer coisa pior quando saísse de lá. Mas o panfleto mostrava que a lei tinha mudado as coisas”. Foi quando notaram a chegada do agressor e esconderam às pressas o papel em cima da geladeira. Um vento mais forte derrubou o material no chão, que logo foi descoberto por ele. Em mais um acesso de fúria, queria obrigar mulher e filha a, literalmente, engolirem o papel como castigo.
A recusa das duas antecedeu outra ofensiva ainda mais violenta, quando a adolescente foi jogada contra a parede e cortada por pedaços de um espelho quebrado. Ver a filha ensaguentada foi o ultimato para Cileide, que conseguiu correr até o orelhão mais próximo e ligar para a ONG, que, por sua vez, acionou a Polícia Militar.

“Ainda não sei se é o caso do Cabo, mas o desenvolvimento poderia trazer para as vítimas a autonomia financeira, porque elas poderiam arranjar emprego e isso facilitaria a saída de casa e a quebra do vínculo com o agressor. Mas, às vezes, ele vem de uma forma desordenada. Vejo aqui muitas pessoas que estão desempregadas”, diz a primeira delegada da mulher daquela cidade, Julieta Japiassu, que nos primeiros dez meses de trabalho já tinha recebido em seu seu birô 126 queixas por ameaças e 45 por lesão corporal, a maioria envolvendo casais do próprio município.

Analfabeta e separada do arrimo da casa, Cileide criou os quatro filhos vendendo picolé na praia, depois montou uma banca na feira e, por fim, um fiteiro perto da estação ferroviária, onde está até hoje. Nunca lhe acometeu a ideia de vestir um macacão e bater ponto numa fábrica: “O único curso de solda aqui é pago. Se a mulher não tem dinheiro, tem de pedir ao marido, que muitas vezes não gosta. Quando ela chega lá, está aquela fila de homens. E ela ainda tem filhos para cuidar”.


A secretária executiva da Mulher do Cabo, Maria Tereza Claudina, está no cargo há cinco meses. Comerciante, nunca tinha militado na trincheira feminista ou participado de qualquer atividade ligada à causa. Admite não saber qual é o orçamento da pasta que comanda por indicação política. Sugere que as duas funcionárias da equipe do Centro de Referência da Mulher, que acompanham a entrevista, falem antes dela, mas resolve dar seu parecer sobre as queixas envolvendo mulheres à deriva da prosperidade: “Um pouco verdade. Chegaram pessoas de fora. As mulheres, no auge delas, são totalmente carentes. Elas necessitam… Como eu posso falar?”. É interrompida pela assistente social Dilza Sousa, que trabalha há mais de 20 anos atendendo vítimas de violência, que endossa todos os itens da pauta feminista na cidade, reconhece as precariedades do poder municipal e cobra uma participação das esferas estadual e federal, com quem compartilha as responsabilidades: “Precisamos ser vistos, precisamos que eles venham até nós. Enquanto isso não acontecer, a gente vai enxugar gelo”, afirma Dilza, que no ano passado acolheu 192 pessoas no centro, além de outras 62 no primeiro semestre de 2013, incluindo mulheres ameaçadas de morte.

Algumas delas vieram da região conhecida como Mercadão, espécie de playground noturno dos trabalhadores do Cabo, que agrega em torno de uma praça alguns bares, restaurantes populares, motéis baratos, um ponto de mototáxi e, por fim, um corredor paralelo de prostituição. Os programas começam cedo da noite, justamente para acompanhar o desembarque dos clientes de farda. Espontaneamente, M.A.S., 40 anos, surge com uma cara de poucos amigos e uma denúncia na ponta da língua contra supostas abordagens abusivas de policiais militares a garotas de programa, que ela alardeia sem ter como provar e sem exigir anonimato. Passou mais da metade da vida na prostituição (completou 25 anos de profissão neste ano) e cobra entre R$ 20 e R$ 30 por saída. “A turma de Suape ajuda porque a gente faz mais programas. Tem menina que faz 10  num dia”, relata M., que atua como representante informal de um grupo de 20 garotas, muitas recém-chegadas à maioridade.

Se as cifras da prostituição não costumam interessar ao debate envolvendo a cadeia produtiva criada por Suape, é na geração de empregos secundários que a ala de defesa encontra seu porto seguro. Estudo encomendado pelo Porto de Suape indica que entre 2000 e 2010 foram criados 112 mil postos no chamado território estratégico do complexo, com oito cidades. Desse total, coube à população feminina  31,3 % das vagas. Há três anos, considerando somente os pilares Cabo e Ipojuca, 23,6% da força de trabalho tinha funcionárias na ponta, cabendo aos homens mais de dois terços de tudo. Entre as mulheres empregadas nessas cidades, 31% trabalhavam em prefeituras, 15% na indústria e 17% no comércio.

Luciana Bezerra, 39, dona de uma barraca na praia de Gaibu há oito anos, deixou uma casa alugada em Fortaleza e migrou para um imóvel próprio perto do trabalho, comprado ao sabor do paladar e do bolso da clientela de turistas de veraneio ou de famílias locais que chegavam nos fins de semana. A faixa de areia, diz ela com lamento escancarado, agora tem novos donos. “Eles consomem pouco e afastaram as famílias porque muitos não respeitam, principalmente os (trabalhadores) baianos”. Na vizinha Ipojuca, Josefa Roberta Barbosa, a dona Zeza, 83, uma das moradoras mais antigas da cidade, tem a visão de quem acompanhou o lugar cambalear nas canetas dos prefeitos durante décadas a fio. “Melhorou muito. Antes, todo mundo dependia de prefeitura. Mulher e homem. Hoje é diferente”. Terezinha Soares, 60, cuidadora de dona Zeza, discorda da patroa. Ela teve que aceitar o bico provisório apenas para tapar buracos no orçamento familiar. A filha quer trabalhar, mas o genro não deixa. “Parece que todo mundo tem casa e tem carro. Para mim, piorou: não tenho trabalho, não sou aposentada e não tenho leitura”.

Às 11h35 de uma quinta-feira, Marli Santos, 38, ajudante de mecânica de uma montadora, já tinha almoçado. Aguardava o transporte de volta ao batente em uma sombra disputada do estacionamento do restaurante na beira de estrada. Teve pouco mais de cinco minutos para conversar sobre uma vida inteira, além de alguns segundos para ser fotografada, já aos gritos de uma colega: “Bora, Marli”. Na digestão a jato, a moradora do Cabo contou que não tinha sequer o primeiro grau quando entrou no porto pela primeira vez como ajudante de cozinha de uma empresa terceirizada. Passou para a área de serviços gerais e tomou gosto pelos estudos até conseguir terminar o segundo grau e engatar um curso de ajudante de mecânica. Contratada, era a única mulher do grupo do operários que em menos de 20 minutos voltaria a dar duro na linha de montagem de uma fábrica de máquinas industriais. Marli também tinha pressa — provocada pelo calor infernal agravado por uma farda cinza de tecido grosso ou pela pressão do relógio. Uma dúvida que o número do celular — sempre fora de área — que ela balbuciou subindo o micro-ônibus não ajudou a desvendar. O veículo tinha todas as janelas fechadas, como queriam as feministas, os engravatados da Petrobras e os gestores que ela sequer conhece. Mas só por causa do ar-condicionado.


Para entender os Black Blocs

A autodefesa popular não pode jamais ser vista como "antipolítica" ou "apolítica", muito menos "despolitizada".
Os Black Blocs não são um movimento ou um grupo organizado aos moldes tradicionais de coletivos e partidos, são uma ideia, um método. São indivíduos que podem ter algum tipo de organização primitiva (normalmente via redes sociais) e se juntam durante manifestações para servir como escudo para o movimento social. É possível que grupos adotem a tática Black Bloc, mas não há um “grupo” Black Bloc.
Como já escrevi antes, são uma arma defensiva útil e necessária em tempos de imensa brutalidade policial. Não à toa, foram elogiados pelos professores do Rio em greve e são visto com os salvadores por muitos que se encontraram diante da violência policial e veem neles um alento, uma proteção. Não faltam histórias na internet sobre quem dizia até mesmo temê-los, mas que, na hora do aperto, do quase sufocamento com o gás da PM ou quando na direção das balas da polícia, foram salvos por eles.
A função dos Black Blocs não é a de fazer a revolução, mas a de proteger o movimento social. E usam para este fim as “armas” que podem.

Ideologia

É um equívoco acreditar que a tática Black Bloc serve para derrubar o Estado. Ela é fruto de raiva e de necessidade. Não é organizada, e nem sempre é ideológica no sentido de ter um direcionamento anarquista ou marxista. É apenas uma forma que uma parcela da população encontrou de deixar fluir sua raiva contra o Estado e defender manifestações legítimas no processo.
Este aparente vazio ideológico, porém, não deve ser compreendido como alienação ou mesmo como algo que serve de massa de manobra. Não serve. Os integrantes podem não ter um direcionamento ideológico claro, mas sabem quem são seus inimigos.
E, claro, não podemos falar deste esvaziamento ideológico como um fenômeno uniforme entre os Black Blocs, que reúnem desde anarquistas autênticos, passando por estudantes, professores e mesmo moradores de favela e um ocasional desocupado.
Não é um grupo uniforme, até porque não é, enfim, um grupo. Formam-se grupos extremamente diversos durante manifestações (convocados via redes sociais ou espontâneos) com o intuito de autodefesa que adotam a tática de violência revolucionária (tática Black Bloc) e, passado algum tempo, extravasam a raiva nos símbolos mais claros da opressão a que muitos ali são submetidos, notadamente bancos, bens públicos e um ocasional Clube Militar.
A autodefesa popular não pode jamais ser vista como “antipolítica” ou “apolítica”, muito menos “despolitizada”, assim como o repúdio por parte de alguns elementos que formam as linhas Black Blocs dos partidos tradicionais não é antipolítica. O repúdio às instituições carcomidas do Estado e críticas localizadas à atuação partidária (em especial do PT, PMDB e PSDB, todos que se declaram falsamente de esquerda) não podem ser encaradas com uma crítica generalizada à política. Nada poderia ser mais incorreto e distante da realidade.
É inegável, porém, que grupos podem se apropriar deste discurso e o transformar naquilo que muitos temem, num discurso esvaziado e de tons fascistas, mas estes grupos não estão nas ruas (estiveram em algum momento em junho, mas já voltaram para suas casas, para seus grupelhos de galinhas verdes e similares), não representam a maioria daqueles que saem para a luta.
Um grupo não pode ser responsabilizado pela apropriação que outro faz de suas teses, ideias e pensamentos (e ações), assim como o pensamento Black Bloc não pode ser responsabilizado pelo fascismo que uns buscam impor à ideologia.
Ponto importante presente em análises honestas sobre os Black Blocs é o problema da perpetuação do caráter difuso destes, e na possibilidade da violência se tornar um fim em si mesma, da revolta e raiva presentes representarem a totalidade da “alternativa” apresentada pelos grupos que utilizam a tática Black Bloc.
Por outro lado, não é pertinente a crítica de que os Black Blocs, compreendidos por muitos como um grupo, não levariam propostas aos fóruns legítimos, como os fóruns grevistas da SEPE, sindicato dos professores do Rio. Ora, tal afirmação demonstra um profundo desconhecimento do que é a tática Black Bloc e do que ela representa.

Protagonismo

Ao meu ver não é papel dos Black Blocs se preocupar em primeiro lugar com marketing pessoal, senão agir em defesa daqueles que vão às ruas (também é válida a discussão sobre ações ofensivas e defensivas). Até porque, repito, não são um grupo.
Não há erro algum no emprego da tática. A grande questão, no entanto, é a falta de cobertura dada por partidos de esquerda a quem vai para a linha de frente defendê-los. Como já discuti algumas vezes, me parece ser apenas o ranço de algumas correntes marxistas que necessitam sempre estar à frente, sempre ser vanguarda.
Não é produtiva a briga de egos entre grupos que se veem na vanguarda e se sentem acuados frente a perda de protagonismo para os Black Blocs. Um sentimento até mesmo burro, visto que partido/movimento social é diferente de Black Bloc, e não eles não disputam entre  si o(s) mesmo(s) espaço(s). Na verdade, caberia aos partidos se aproximar dos Black Blocs, buscando canalizar a raiva dos grupos que adotam esta tática, buscando direcionar e mesmo facilitar a politização de muitos dos adeptos.
Em suma, cabe aos movimentos organizados, aos partidos e movimentos sociais compreender a tática Black Bloc e, ao invés de subirem em pedestais ideológicos e lamberem as feridas da vanguarda perdida, buscar abrir um canal de diálogo com aqueles mais afeitos a isto, criando táticas conjuntas e buscando aprimorar a autodefesa popular.

Esquerda e falsa vanguarda

O que temos hoje são Black Blocs numa ponta, e partidos/movimentos em outra, empedernidos, incapazes do diálogo e da compreensão. Ora, temos uma infinidade de grupos e tendências de esquerda que sequer conseguem sentar numa mesa e dialogar, que o diga quando surge algo mais radicalizado e absolutamente fora de suas órbitas de controle (ou mesmo compreensão).
Ou seja, o grande problema aqui sequer é a incapacidade de partidos dialogarem com os adeptos do Black Bloc, mas a incapacidade da esquerda conversar entre si.
A SEPE, sindicato dos professores em greve no Rio, foi a única organização capaz de compreender até o momento o que são e como agem os Black Blocs. A SEPE abriu diálogo, homenageou e foi defendida pelos Black Blocs.
Setores do PSOL e o PSTU preferem permanecer na posição de falsa vanguarda, enquanto o PT, parte do Estado repressor e aliado de primeira grandeza dos políticos responsáveis pela repressão no Rio, permanece na pura e boçal criminalização (não só dos Black Blocs, mas de todo o movimento social e grevista).
Por mais que “queimar lixos” não contribua para nenhuma revolução, é um primeiro passo para a radicalização do movimento social. Mais produtivo buscar dialogar e entender que simplesmente criminalizar – e nisso realizar o trabalho da mídia, do PT, do PMDB e do PSDB.

E a mídia?

Se dependermos da Globo (ou da Record, ou de qualquer outro veículo da grande mídia) para nos informar sobre as ações Black Blocs, sem dúvida a imagem será negativa, mas a imagem dos professores em greve ou de qualquer movimento social organizado é igualmente negativa pelo prisma da grande mídia, salvo em ocasiões específicas onde apoiar um movimento social ou uma pauta possa ser interessante no ataque a inimigos selecionados em momentos bem específicos.
O que vemos são professores agradecendo aos Black Blocs por sua proteção.
São milhares de pessoas que saem às ruas vendo que os Black Blocs funcionam como uma linha de defesa – ainda que fraca – frente à violência e brutalidade policiais. Como foi dito no Twitter (infelizmente me escapa a autoria), quantas pessoas foram mortas pela polícia e quantas pelos Black Blocs? Ou seja, se estamos falando em “violência”, em “assustar” e mesmo em afastar pessoas de manifestações, creio que a mera presença da PM seja mais “eficaz” que a dos Black Blocs.
Quantos conhecem pessoas que foram agredidas pelos Black Blocs? Aliás, as manifestações pelo país, em especial no Rio, onde a ação Black Bloc vem se mostrando mais intensa, não param de crescer e se radicalizar de diferentes maneiras. Logo, nem a violência repressiva da PM e nem a resposta Black Bloc tem tido “sucesso”, se tomarmos o prisma liquidacionista de setores fanatizados do PT e da mídia, que objetiva enfraquecer as mobilizações. Cai por terra mais uma mentira dita aos quatro ventos.
No fim das contas, “assustar” ou mesmo não ser do agrado da “população em geral” não é definidor de moralidade, utilidade ou viabilidade, pois precisamos compreender por qual prisma essa “população em geral” tem acesso à informação.
Vejam, por exemplo o discurso da mídia sobre protestos na França, com carros queimados. Vandalismo? Não. Apenas manifestações.
Quem está nas ruas lutando sabe do papel dos Black Blocs. E a mídia encontraria qualquer outra desculpa para deslegitimar e esconder as manifestações de professores em greve ou de quaisquer outros grupos sociais em luta nas ruas. Os Black Blocs são apenas a desculpa do momento. Em junho, antes da violência generalizada contra jornalistas obrigar a grande mídia a alterar seu discurso, não eram as reivindicações dos manifestantes a pauta, e sim a violência da PM, que era glorificada.
Além disso é preciso também ter em mente o papel desinformador e mesmo criminosos de quem fica em casa gritando contra o “PIG”, mas fazendo coro a ele durante manifestações, criminalizando professores, Black Blocs e movimentos sociais que se insurgem contra os governos a que estes fanáticos são simpáticos.

Violência Black Bloc versus Violência Estatal

Uma discussão válida, porém, é o papel defensivo versus o ofensivo dos Black Blocs (já declarei minha posição contrária a ações ofensivas enquanto em manifestações, ainda que não descarte o uso da violência revolucionária em casos e momentos específicos), mas jamais culpar a autodefesa popular pela ação policial. E digo ação e não reação por um simples motivo: na ampla maioria das vezes, a PM começa com provocações e violência, respondida pelos Black blocs. A mera presença de pessoas nas ruas é uma provocação para a PM e para o Estado.
Logo, declarar que os Black Blocs “servem” ao Estado na legitimação da violência é descambar para o debate do ovo e da galinha. Um falso debate. E um debate que serve aos propósitos do opressor, pois pinta um quadro em que, sem os Black Blocs, tudo seriam flores e não haveria violência. Os protestos de junho comprovam que este declaração é pura mentira: bastava cruzar uma linha imaginária que a violência policial começava; bastava encarar um PM e a violência começava; bastava ficar parado, que um P2 estratégico lançava um molotov contra seus próprios companheiros… e a violência começava.
Qualquer um que tenha mínima história junto aos movimentos sociais e não esteja no processo de penhora ideológica por este ou aquele partido sabe perfeitamente que a violência estatal é uma constante, independe de “provocação”.
Esta tese quase marilenachauiana de “provocação Black Bloc” não procede. Na verdade é uma falácia tremenda. A PM bate, não importa a presença de resistência organizada.

Conclusão

A principal linha auxiliar da direita no país, hoje, chama-se Partido dos Trabalhadores, cuja maioria de eleitos vota junto com Paes e Cabral, cujos representantes eleitos são responsáveis por violações (caso da Bahia, do Rio Grande do Sul), oferecem a Força Nacional para a repressão a movimentos populares, cuja direção está ligada carnalmente ao PMDB e outros partidos da mesma espécie e, ainda, cuja militância em peso silencia ou mesmo aplaude ações violentas da PM contra a população.
Culpar os Black Blocs por responderem à violência que invariavelmente viria por parte do Estado é culpar a vítima pela agressão sofrida. Temos, sim, é de cobrar uma posição dos partidos estabelecidos, em especial da esquerda, em relação à violência policial. E não apenas uma posição, mas maneiras de se organizar a população para a autodefesa.
Qual o projeto de setores do PSOL, do PSTU, do PCO, dentre outros, para a defesa daqueles que saem às ruas para reivindicar seus direitos frente à violência do Estado? Atacar os Black Blocs não é uma resposta válida.
Sim, os Black Blocs precisam de direcionamento, precisam de maior organização, mas não podem, jamais, ser culpados pela violência do Estado. Cabe aos partidos que se enxergam como vanguarda descerem de seus pedestais e aceitarem o trabalho de politizar as massas, de direcionar e canalizar raivas e anseios.
O Estado é repressor e chegou a hora de alguém se levantar contra isto. E qualquer um que aplauda a repressão, que defenda o uso da Lei de Segurança Nacional, não passa de um fascista.
Fonte - Amálgama

Trabalhadores são resgatados da escravidão em obra de fábrica da Ambev em Minas Gerais

Aliciadas no Nordeste e levadas a Uberlândia (MG), vítimas tiveram carteiras de trabalho retidas e sofriam constantes ameaças e agressões dos seus superiores, que portavam armas
Auditores fiscais do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), procuradores do Ministério Público do Trabalho (MPT) e agentes da Polícia Militar de Minas Gerais (PM) libertaram 21 trabalhadores da obra de construção de uma fábrica da produtora de bebidas Ambev em Uberlândia, município do sudoeste mineiro. A operação aconteceu na madrugada de 18 de outubro. Uma pessoa foi detida.
Armas usadas para ameaçar vítimas (Foto: MTE)
Armas usadas para ameaçar vítimas. Foto: MTE
A fiscalização foi feita no alojamento onde os 21 pedreiros e serventes dormiam. Na mesma casa também estavam alojados dois superiores dos trabalhadores. Um deles chegou a ser preso pela PM por porte ilegal de armas, mas foi liberado depois de pagar fiança. De acordo com as vítimas, o homem detido e outro encarregado da obra os ameaçavam constantemente. O primeiro mantinha um revólver o tempo todo preso à sua cintura e o segundo usava uma faca para assustar os trabalhadores. Eles chegaram a agredir as vítimas com socos.
Os trabalhadores foram aliciados por um funcionário da RRA, empresa terceirizada pela Marco Projetos e Construções, responsável pela obra. Eles vieram do Piauí, de Pernambuco e da Bahia há pouco mais de um mês, mas não tinham recebido nenhum salário. Segundo o procurador do trabalho Paulo Gonçalves Veloso, que acompanhou o resgate, havia restrição à “manifestação de vontade” dos trabalhadores. “Eles ficavam com receio de cobrar salário porque eram agredidos”, disse. Além de não receberem salário, as vítimas tiveram retidas suas carteiras de trabalho pela empresa.
Os auditores fiscais do trabalho que participaram do resgate constataram que o alojamento estava em condições degradantes. Apontaram as péssimas condições de higiene e limpeza e falta de água potável. Além disso, a casa estava superlotada e algumas das vítimas tinham de dormir na cozinha, por falta de espaço.
Excesso de jornadaSegundo Amador Dias da Silva, um dos auditores que fez o resgate, os trabalhadores também alegaram excesso de jornada. Somente um deles tinha comprovante de ponto, que marcava uma jornada de mais de 13 horas diárias, das 7h30 às 21 horas. Diversos outros funcionários reportaram situação semelhante aos auditores, mas a denúncia não pôde ser comprovada porque a ação aconteceu somente no alojamento, que ficava fora da área da obra.
Como a terceirização ocorreu na atividade-fim da construtora e devido às condições degradantes do alojamento, os procuradores do MPT consideraram que a contratação dos trabalhadores pela RRA foi ilícita com base na súmula nº 331 do Tribunal Superior do Trabalho (TST). Por isso, o MPT propôs à Marco Projetos e Construções a assinatura de um Termo de Ajuste de Conduta (TAC), mas a empresa se recusou. A RRA assumiu a responsabilidade pela situação dos trabalhadores, mas pagou as verbas rescisórias de “maneira irregular”, de acordo com o procurador do trabalho.
Em nota, a Ambev declarou que deve acionar judicialmente a Marco “por descumprimento das obrigações assumidas em contrato, especialmente aquelas relativas às condições de trabalho de seus empregados”. Já a construtora afirmou, também em nota, que a empresa ou seus representantes não tiveram qualquer participação no incidente.
Em seu site, a Ambev diz ser a maior indústria de bebidas do mundo. No Brasil, é dona de marcas como Brahma, Antarctica e Skol, entre outras, responsáveis, juntas, por 70% do mercado de cervejas. Quando pronta, a fábrica de Uberlândia será a quarta da empresa em Minas Gerais.

À espera de um milagre - O que está por trás da crise financeira de uma das mais poderosas igrejas evangélicas do País

Quadrilhas de pastores ladrões, dívidas milionárias com as tevês, administração amadora e investimentos equivocados na construção de grandiosos templos. O que está por trás da crise financeira da Mundial, uma das mais poderosas igrejas evangélicas do País

Rodrigo Cardoso
Chorar durante a pregação é um dos traços mais marcantes da performance de Valdemiro Santiago de Oliveira, o todo-poderoso da Igreja Mundial do Poder de Deus (IMPD), no púlpito. Criticado por abusar dessa prática, o autointitulado apóstolo tem motivos mais terrenos para derramar suas lágrimas atualmente. O império neopentecostal construído por esse mineiro de 49 anos, nascido em Cisneiros, distrito de Palma, a 400 quilômetros de Belo Horizonte, vive a maior crise da sua história. O mais recente indício de que a IMPD está fragilizada foi a decisão do Grupo Bandeirantes de encerrar, na semana passada, a parceria que mantinha com Valdemiro, que alugava quase a totalidade da grade da programação do Canal 21 e ocupava cerca de quatro horas diárias nas madrugadas da Band. Motivo do fim do acordo: atrasos no pagamento.
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PASTOR
Valdemiro Santiago criou um império religioso, viu seu rebanho se
expandir por cerca de cinco mil templos e, agora, tenta colocar a
casa em ordem ao ver sua igreja sangrar em milhões de reais
Valdemiro até que tentou impedir o fato. De microfone em punho, o comedor de angu que cuidava de marrecos na roça antes de se converter evangélico usou toda a sua empatia com o povão. No início do mês, pôs o rosto no vídeo, caprichou na voz chorosa e iniciou uma campanha conclamando seus fiéis a ajudá-lo a arrecadar R$ 21 milhões para honrar compromissos com o aluguel de horários na mídia. A Mundial já devia R$ 8 milhões ao Grupo Bandeirantes referentes a setembro. No fim deste mês, outro boleto a vencer: R$ 13 milhões. A emissora paulista não confirma oficialmente, mas a Igreja Universal do Reino de Deus, de Edir Macedo, concorrente direta da Mundial, teria entrado na disputa por esses horários e conseguido vencer a briga sobre a maior concorrente na disputa por almas. “Pegaram a gente em um momento de fraqueza”, diz uma liderança da IMPD. “Gastamos R$ 300 milhões com templos ultimamente e vivemos um tempo de estruturação e amadurecimento.”
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PODER
Diante da crise, Valdemiro nomeou Jorge Pinheiro (acima), marido da irmã
de sua esposa, para gerir o setor financeiro e administrativo da IMPD no
lugar do bispo Josivaldo (abaixo), transferido para Lisboa
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"Cerca de 30% dos recursos que arrecadamos são desviados
por bispos e pastores. Por mês, R$ 30 milhões saem pelo ralo"
,
afirma um alto dirigente da IMPD do Rio de Janeiro
Quisera Valdemiro Santiago, porém, que seus problemas fossem revezes restritos apenas ao campo administrativo da sua igreja. Em São Paulo, o líder evangélico é alvo de uma investigação do Ministério Público estadual e da Polícia Civil. Desde janeiro de 2013, diligências feitas pelo Grupo Especial de Delitos Econômicos (Gedec) e pela Divisão de Investigações sobre Crimes contra a Fazenda, da Polícia Civil, apuram um suposto crime de lavagem de dinheiro e ocultação de bens, direitos ou valores. O dono da Mundial virou alvo das autoridades quando elas descobriram que a Fazenda Santo Antonio do Itiquira, localizada em Santo Antônio do Leverger (MT), um conglomerado de 10.174 hectares de terras ocupado por milhares de cabeças de gado, foi comprado por R$ 29 milhões à vista pela empresa W. S. Music, cujos representantes são o apóstolo e sua mulher, a bispa Franciléia. O caso, que pode configurar uso do dinheiro de fiéis para enriquecimento pessoal, corre em sigilo.
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A Mundial, fundada em 1998 – antes dela, Valdemiro fora pastor na Igreja Universal por 18 anos (leia quadro) –, viveu um avanço muito grande em um curto espaço de tempo. De 500 templos em 2009, hoje a denominação computa mais de cinco mil unidades, segundo seus membros. Acontece que a vida de uma igreja não se resume ao púlpito ou aos cultos. Administrativa e financeiramente falando, a IMPD não evoluiu. “Cerca de 30% dos recursos que arrecadamos são desviados. Por mês, R$ 30 milhões saem pelo ralo”, afirma um alto dirigente da denominação, lotado no Rio de Janeiro. De acordo com ele, a devoção em torno dos cultos, espécie de pronto-socorro espiritual, onde fiéis garantem ter alcançado a cura divina para alguma enfermidade graças à intercessão de Valdemiro, trouxe notoriedade à igreja e atraiu quadrilhas de pastores que se infiltraram em seus templos para se apropriar das doações. “Há dois anos e meio, por exemplo, o Valdemiro descobriu uma dessas quadrilhas no ABC paulista liderada pelo bispo e por seus auxiliares e os expulsou.”
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PREGAÇÃO
Com fama de milagreiro, Valdemiro fez fama ao se aproximar
dos mais humildes. Abaixo, sua esposa, a bispa Franciléia
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Esse mesmo dirigente lembra do dia em que, ao manobrar seu carro na saída de um culto, uma fiel bateu no vidro para alertar que pessoas traíam a confiança do líder evangélico: “Pastor, está vendo esse carnê da Mundial? A conta corrente aqui escrita não é a da igreja. Estão distribuindo carnês falsos para o povo pagar! Avisa o apóstolo, por favor!” Ou seja, o dinheiro estava sendo desviado num esquema paralelo ao de Valdemiro. Professor da pós-graduação de Ciências da Religião da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Ricardo Bitun se deparou com essa prática ao ir a campo para a confecção de sua tese de doutorado. Intitulado “Igreja Mundial do Poder de Deus: Continuidades e Descontinuidades no Neopentecostalismo Brasileiro”, o estudo defende que Valdemiro foi o único dissidente da Universal que conseguiu alcançar sucesso. E assim o fez graças, principalmente, à remasterização da cura divina, uma prática bastante difundida no Brasil nos anos 1970. “Um bispo me contou que havia pastores infiltrados em igrejas e até mesmo bispos cobrando propinas de pastores”, diz Bitun.
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SUSPEITA
Uso do dinheiro de fiéis para enriquecimento pessoal, como a compra de uma
fazenda de R$ 29 milhões (à esq., o documento  de compra em seu nome),
é investigado pelo Ministério Público e pela Polícia Civil de São Paulo
Valdemiro é um líder religioso onipresente no altar e nos programas televisivos e demorou a perceber que estava sendo traído por pessoas muito próximas a ele – e do alto escalão da igreja. Havia um grupo próximo a Josivaldo Batista de Souza, que era considerado o número 2 da Mundial, agindo como lobos em pele de cordeiro. “Ele se deu conta de que o problema advinha da concentração de poder em torno dessa turma”, diz um membro da hierarquia paulista da Mundial. “Era gente pedindo avião para fazer não sei o quê, para ter programa na televisão não sei onde, para abrir igreja em um grotão aí...” Segundo esse integrante da IMPD, Valdemiro cometeu erros próprios de líderes que sobem muito e rapidamente. “Ele se cercou de um estafe pequeno que blindava o acesso a ele. E, assim, passou a ouvir pouco outras opiniões. Precisa amadurecer.”
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FLAGRA
Membros da Mundial chegaram a clonar carnês para desviar
o dinheiro que era arrecadado dos fiéis nos cultos
Diante das dívidas, dos calotes e das traições, o líder da IMPD está tentando conter a sangria da sua igreja do jeito que pode. Transferiu para Lisboa o pastor Josivaldo, um ex-membro da Universal que o acompanha desde o começo dos trabalhos da denominação em Pernambuco, segundo Estado onde ele fincou sua bandeira. Para substituir Josivaldo, que era responsável pela gestão administrativa e financeira e cuidava do dia a dia da Mundial, além dos bispos e pastores, Valdemiro achou por bem recorrer a um familiar. Empossou o bispo Jorge Pinheiro, marido da irmã da sua esposa Franciléia. Para tentar se reequilibrar financeiramente, conta um bispo paulista, ele decidiu se desfazer de duas Cidades Mundiais, como são chamados os megatemplos da IMPD, em São Paulo e no Paraná. Elas se encontram fechadas pelos órgãos públicos locais, após pouco tempo de funcionamento, por não preencherem requisitos para receber o público. Um claro erro de avaliação que onerou a igreja. “A Cidade Mundial paulista está fechada desde fevereiro de 2012. Mas Valdemiro, todo mês, tem de pagar R$ 5 milhões das parcelas da compra dela”, diz o bispo. Missionário da IMPD, o deputado estadual Rodrigo Moraes (PSC-SP), que foi designado pela igreja para fazer “a coisa caminhar” junto aos órgãos públicos, segue na sua empreitada. “Não recebi o comando de parar o trabalho ainda. Mas a vontade do apóstolo é que fala mais alto”, afirma. Templos pequenos e mal localizados, que não condiziam com a orientação de Valdemiro, também deixaram de ser usados. “Cerca de 15% deles tiveram de ser fechados ou reestruturados”, diz uma liderança da igreja. Pode ser uma saída para que a fama de caloteiro não suplante a de apóstolo milagreiro.
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NA JUSTIÇA
Faz três meses que a Mundial não paga o aluguel do imóvel (acima),
localizado em Pirituba (SP): ação de despejo e cobrança de R$ 34 mil.
À esq., Cidade Mundial em São Paulo, que será fechada
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Não são poucos os templos ocupados pela IMPD que têm problemas com aluguel atrasado ou ações de despejo em curso na Justiça. Em Pirituba, por exemplo, bairro da capital paulista, o proprietário impetrou na justiça uma ação de despejo contra a igreja por não receber o aluguel de seu imóvel desde julho. E cobra, ainda, o pagamento de R$ 34.538,64. De acordo com um de seus representantes legais, essa é terceira vez que a justiça é acionada desde 2010, quando o local passou a ser ocupado pela Mundial. “Não entendo a falta de organização da igreja. Não acredito que ela não tenha caixa para pagar o aluguel”, diz ele, que prefere não se identificar. “Esses problemas diminuíram 70% nos últimos tempos”, garante Dênis Munhoz, advogado da Mundial. À frente também do cargo de vice-presidente da Mundial, Munhoz refuta a ideia de a denominação viver uma crise, argumentando que a IMPD é a evangélica que mais cresce no Brasil. Sobre as quadrilhas de pastores, afirma: “Se existe esse problema, a igreja sempre tomou as providências rapidamente.” Prefere, no entanto, não comentar a perda dos espaços no Canal 21 e na Band. Quem falou sobre o assunto foi o presidente da IMPD, o deputado federal José Olímpio (PP-SP). “Estamos pagando muitas prestações, os valores de aluguéis aumentaram, temos muitas obras em andamento e acabou atrasando alguma coisa. Aí, deixa de pagar um mês e vira um problema para a mensalidade seguinte”, diz.
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Para se ver livre de mais problemas, Valdemiro, que, procurado por ISTOÉ, não se manifestou, entregou os horários que possuía na Rede TV! e na CNT. Deixou também de alugar espaço em dezenas de retransmissoras de diferentes estados e recuou no projeto de ocupar a programação de tevês da Argentina, Colômbia e do México. “Muitas vezes, é melhor dar um passo atrás para, depois, dar um maior à frente”, diz o alto dirigente da Mundial do Rio. “Valdemiro me disse que estava, inclusive, vendendo a sua fazenda no Mato Grosso.” Essa informação não foi confirmada pelo presidente nem pelo vice-presidente da IMPD. Mas, na atual situação, receber R$ 33 milhões, valor estimado da Fazenda Santo Antonio do Itiquira, seria como um milagre para o líder evangélico.
Fonte - ISTOÉ

Projeto de lei propõe tratamento psicológico aos preconceituosos


O vereador e médico Ricardo Camargo Vieira (PCdoB), de Florianópolis (SC), apresentou um projeto de lei que, se aprovado, criar tratamento psicológico gratuito municipal aos preconceituosos, como racistas e homofóbicos.


Vieira (foto), que é médico, argumentou que seu objetivo é garantir acesso ao sistema de saúde público municipal a todos que sofrem de fobias ou que apresentem um comportamento antissocial. 

Esse projeto de lei se contrapõe ao do vereador Deglaber Goulart (PMDB), apresentado no início do mês, que cria tratamento psicológico a homossexuais. 

Os dois projetos levantaram polêmica na Câmara Municipal e na cidade. A crítica mais frequente a Deglaber é que ele está tentando aprovar em Florianópolis a “cura gay”, que a Bancada Parlamentar Evangélica quer implantar nacionalmente.

A proposta de oferecer tratamento aos preconceituosos tem a oposição do secretário-geral da Comissão de Direitos Humanos da OAB, Alexandre Botelho. Para ele, caso o projeto seja aprovado, as pessoas que eventualmente têm algum preconceito ficarão rotuladas.. “E isso acaba duplicando os efeitos negativos desta conduta na sociedade.”

Ele argumentou que o SUS já oferece tratamento contra fobias em geral.

Com informação da Câmara Municipal de Florianópolis.
Fonte - Paulo Lope

Mortes de crianças indígenas aumentam 43,5% em MS

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Mortes de crianças de 1 a 4 anos aumentaram 43,5% em Mato Grosso do Sul entre os anos de 2011 e 2012. É o que aponta relatório divulgado esta semana pelo Conselho distrital de Saúde Indígena de Mato Grosso do Sul. De acordo com o coordenador da entidade, o terena Fernando de Souza, a alta está relacionada a falta de estrutura nas unidades Básicas de Saúde, o que impede um trabalho de prevenção e até mesmo um socorro imediato aos pacientes, que muitas vezes moram em aldeias afastadas da área urbana.
“Com frota de veículos sucateada, equipamentos defasados e falta de medicamentos as crianças pagam com a própria vida o preço da inoperância da Sesai. O que é revoltante é que este descaso acontece mesmo quando a Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena) duplicou o teto de repasses que passou de R$ 25 milhões na gestão da Funasa (Fundação Nacional do índio) para R$ 50 milhões com a criação da Secretaria em 2011”, destaca.
Conforme Fernando, do total de mortes, 52% são de doenças infecciosas, em que as causas são evitáveis. “A criança é acometida com uma gripe, por exemplo e sem a medicação básica nos postos o quadro vai se alterando até o óbito. O médico transcreve a receita e muitas vezes o índio não tem acesso nas unidades de saúde das aldeias”, destaca.
Outra preocupação é com aldeias que ficam distantes da área urbana. “O socorro é precário em casos de urgência e emergência porque os veículos da Saúde indígena estão parados no pátio da Sesai por falta de manutenção. Muitas vezes o paciente morre na estrada a caminho de atendimento”, lamenta.
De acordo com gráfico apresentado pelas lideranças indígenas, o ano de 2011 registrou 23 mortes de crianças indígenas contra 33 no ano passado. Também chama atenção as mortes na faixa etária de 15 a 19 anos que quase dobrou. Em 2011 foram 28 mortes contra 44 em 2012. Na faixa etária de 30 a 59 anos foram 88 mortes em 2011 contra 113 em 2012.

Impasse

A crise da Saúde indígena gera desconforto entre a coordenação da Sesai e as lideranças indígenas do estado. De acordo com Fernando de Souza, a comunidade cobra a publicação em diário Oficial do chefe da Sesai, Nelson Olazer. Ele pediu exoneração do cargo no último dia 15 durante Conferência Distrital da Saúde Indígena realizada em Campo Grande.
No próximo dia 26 haverá Conferência Nacional para se redefinir uma nova política nacional de Saúde Indígena. “Queremos um plano de ação emergencial para livrar os indígenas da crise que assola as aldeias além de diminuir os impactos da má administração da Sesai”, destaca.
Ao Campo grande News, o chefe da Sesai Nelson Olazar alega que não suportou a pressão que foi feita e diz ainda que foi vítima de acusações difamatórias. “Me acusaram de incompetência e fizeram insinuações perguntando onde está o dinheiro as Sesai, são incriminações sem foco, sem fundamentos, mas que desgastam”, reclama Olazar.
Diante das acusações, ele nega que durante a gestão tenha sido desonesto. “Não admito que duvidem do meu caráter, é muito difícil fazer tudo certo e ainda ter gente falando mal, sou um pai de família, um cidadão de 50 anos, sempre levei minha vida pública com seriedade, tenho um nome a zelar”, ressaltou o chefe da Sesai. 

Breve história crítica dos feminismos no Brasil

Excluídas da história oficial, as mulheres fazem do ato de contar a própria trajetória uma forma de resistência. Neste ensaio, publicado na...