10 drogas menos perigosas do que o álcool

É mais difícil morrer usando estas 10 drogas do que ingerindo álcool






Drogas são proibidas por lei pelo grande risco que causam à saúde. Mas não é segredo para ninguém que drogas permitidas por lei, como o álcool e o cigarro, também nos trazem grandes riscos. Os danos causados pelo cigarro são bem conhecidos, e a proibição de propagandas e os alertas nas embalagens ajudam a população a ter pleno conhecimento sobre os riscos do produto que está consumindo. Com o álcool, é um pouco diferente. Não há proibição da publicidade e o único alerta feito diz respeito à faixa etária permitida.

Por isso, a impressão que fica é que bebidas alcoólicas não representam um risco tão grande, mas isso não é verdade. O manual de orientação da Sociedade Brasileira de Pediatria sobre o álcool diz que a Organização Mundial de Saúde aponta que o consumo de álcool excessivo no mundo é responsável por 2,5 milhões de mortes a cada ano. O percentual equivale a 4% de todas as mortes, o que faz com que o álcool se torne mais letal que a Aids e a tuberculose.

O Brasil é um dos grandes consumidores de álcool do mundo. De acordo com um relatório da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), somos o terceiro país das Américas com o maior número de mortes relacionadas ao álcool entre os homens – e o mesmo estudo aponta que as Américas possuem uma taxa de consumo de álcool maior do que o resto do planeta. O relatório aponta que 73,9 homens a cada 100 mil morreram em 2010 no país devido ao álcool. As mulheres não ficam em uma posição muito melhor: somos o 11º país neste ranking. O álcool mata 11,7 em cada 100 mil mulheres – o número é muito menor que o dos homens porque o consumo entre eles é maior. Proporcionalmente, o número de mortes entre as mulheres brasileiras é alto também, considerando que o primeiro lugar na lista, a Argentina, tem 21,1 mortes por cada 100 mil habitantes.

Um estudo de 2010 feito por cientistas britânicos chegou até mesmo a colocar o álcool como a droga mais perigosa, a frente de substâncias como heroína e crack.

Existem várias maneiras de calcular o perigo de uma droga além de quantas pessoas ela mata – já que isso poderia desvirtuar a análise, uma vez que o álcool, por exemplo, é mais difundido, é legal e possui mais propaganda do que outras drogas e, portanto, chega a mais pessoas. Um método é medir a diferença entre uma dose efetiva da droga e uma dose letal. Considerando isso, as dez drogas listadas abaixo são menos mortais que o álcool tanto no número total de pessoas que matam quanto em relação à diferença entre uma dose letal e uma dose comum – há mais espaço entre uma dose efetiva e uma dose letal entre elas do que no álcool.



10. Cafeína





A cafeína é um estimulante do sistema nervoso central e é a única droga psicoativa que não é rigorosamente regulada. É preciso, antes de tudo, diferenciar a cafeína do café. Casos de overdose de cafeína geralmente acontecem com pílulas ou outros tipos de cafeína concentrada. A xícara média de café tem apenas cerca de 100 miligramas de cafeína. Seria preciso um exagero muito grande de café para arriscar uma sobredosagem. Se você pesa cerca de 68 quilos, você precisaria tomar mais de 50 xícaras de uma só vez para que o café seja letal.

A ciência não sabe exatamente qual seria uma dose letal de cafeína, já que pesquisas sugerem que a tolerância à cafeína é algo individual. O que sabemos com certeza é que mulheres são mais vulneráveis ​​aos seus efeitos do que os homens.

Casos de sobredosagem com cafeína noticiados na imprensa são raros e tendem a acontecer quando ela está em formas irregulares, como em pílulas ou em pó, e os indivíduos tomam uma quantidade excessiva muito rápido.


9. Cocaína




Só por que uma droga é menos perigosa do que o álcool não quer dizer que ela não seja perigosa, e a cocaína é definitivamente perigosa. Ela é o principal estimulante associado à sobredosagem e à morte, superando drogas como a anfetamina e a metanfetamina. Como a cafeína, a cocaína é um estimulante do sistema nervoso central. Ela funciona como um carro em uma via rápida em direção à via mesolímbica do cérebro, onde a sensação de recompensa é processada.

A cocaína funciona bloqueando a remoção de dopamina das sinapses do cérebro, deixando-a acumular, o que causa sentimentos de euforia intensa. Em excesso, a cocaína está associada a irregularidades de humor, alucinações, colapso do septo e psicose. Ela é menos mortal do que o álcool. Porém, quando tomada em conjunto com bebidas alcoólicas, ela cria algo chamado de cocaetileno. O cocaetileno é uma droga nova produzida por uma dose de uma só vez de cocaína e álcool, e seus níveis de toxicidade podem ser 30% maiores do que o da cocaína sozinha.



8. Óxido nitroso




O óxido nitroso, o famoso gás do riso, é um gás incolor e não inflamável. Ele possui um ligeiro odor metálico e a capacidade de causar uma intensa tontura. O óxido nitroso é famoso por seu uso médico como analgésico e anestésico. No entanto, ele também é usado de forma recreativa.


O óxido nitroso foi inventado no final do século 18 e logo tornou-se comum nas festas da classe alta da Grã-Bretanha, e somente depois de superar a resistência dos médicos da época passou a ser usado nos consultórios. Hoje, é possível encontrar óxido nitroso também como oxidante em foguetes e sendo usado para aumentar a produção do motor durante corridas de automóveis.



7. Ketamina




Conhecida como “Special K”, a ketamina, ou cetamina, é um tranquilizante de cavalos que também é usado como droga recreativa – apesar ou mesmo por causa disso. Ela é relativamente comum como anestesia pediátrica e veterinária e é considerada um anestésico disassociativo, causando efeitos parecidos de anestesia do que drogas como o PCP, ou pó de anjo, e a DXM, substância presente em xaropes para tosse, drogas que manipulam as percepções sensoriais de alguém.


Atualmente, pesquisas pioneiras sobre as propriedades químicas da cetamina sugerem que seus usos medicinais são mais amplos do que apenas um anestésico. Pesquisas mostram que ela pode ser útil no tratamento da depressão. Um estudo da Universidade de Yale mostrou que a cetamina, quando administrada corretamente, pode curar partes inteiras do cérebro desgastadas por anos de estresse e fadiga. Quando usada com abuso, ela traz riscos. O uso excessivo pode levar o usuário a uma síndrome clínica que se assemelha a uma psicose esquizofrênica.



6. Maconha





A maconha é uma das drogas psicoativas menos ameaçadoras do planeta. É praticamente impossível morrer com uma overdose de maconha. Na verdade, é uma das poucas drogas sem sobredosagens relatadas. Isso não significa que fazer algo estúpido sob efeito da erva, como dirigir ou tentar pular em um rio, não o matará. Mas é impossível que o corpo consuma níveis elevados de THC, o ingrediente ativo na maconha, a ponto de causar overdose. Seria preciso ingerir centenas de quilos de maconha em poucos minutos para morrer.


Além disso, a maconha possui efeitos medicinais comprovados para aqueles que sofrem de glaucoma, epilepsia, esclerose múltipla e ansiedade, entre muitos outros males.

Não há dúvidas de que a maconha é muito menos tóxica para nossos corpos do que o álcool.



5. Ecstasy






A metilenodioximetanfetamina, conhecida pela sigla MDMA e popularmente como Ecstasy, é um composto sintético produzido pela primeira vez por químicos alemães em 1912. Sua composição química é uma mistura entre a metanfetamina e a mescalina alucinógena. O ecstasy provoca diversas reações químicas no corpo, potencializadas pelo fato de que muitas vezes ele é tomado em conjunto com outras drogas. A droga catalisa uma onda de serotonina no cérebro, levando a sentimentos de euforia, empatia e serenidade que podem durar várias horas.

Quando ela começa a sair do nosso sistema, entretanto, desencadeia reações que causam sentimentos muito fortes de depressão e fadiga.

Overdoses de ecstasy, que geralmente ocorrem em raves e shows de música, levam a desidratação e, em alguns casos, insuficiência cardíaca. Mas o maior perigo da MDMA é que ela raramente é comprada em forma pura. Em vez disso, a droga é misturada a outros compostos que podem ser tóxicos para a saúde.



4. Codeína






Os EUA vivem atualmente uma epidemia de opiáceos, e a inclusão da codeína em xaropes contra a tosse desempenhou um papel nisso. A codeína é o único opiáceo que aparece nesta lista. Quando utilizados corretamente, os opiáceos ajudam a aliviar níveis moderados ou severos de dor. A codeína também é utilizada como supressora da tosse, muitas vezes em conjunto com acetaminofeno ou um fármaco antiinflamatório não esteróide (AINE).

Muitas pessoas vão atrás da codeína acreditando incorretamente que é uma droga mais segura do que outras, mais “pesadas” como a heroína.

A codeína no xarope contra a tosse é misturada com prometazina, uma substância que tem que tem um efeito sedativo. Como a codeína e a prometazina são depressores do sistema nervoso central, a overdose pode levar a uma insuficiência respiratória. Os adolescentes americanos são o subgrupo mais adepto à codeína. Um em cada dez entre eles admitiu usar xarope contra a tosse para fins recreativos em 2014.


Mas mesmo com os perigos de uso indevido e abuso, a codeína não apresenta a mesma ameaça para a saúde social que o álcool.



3. LSD





O LSD, também conhecido como ácido, é a sigla em inglês para dietilamida de ácido lisérgico. O cientista suíço Albert Hofmann sintetizou o LSD em 1938 enquanto trabalhava com o ergot, um fungo encontrado em grãos. Cinco anos depois, ele acidentalmente engoliu algumas de suas criações. Hofmann experimentou formas e imagens estranhas, efeitos comuns do LSD. Três dias depois, ele tomou uma dose maior da substância, no que seria a primeira viagem intencional de LSD no mundo.

O LSD é um alucinógeno que dá a seus usuários novas sensações auditivas, visuais e sensoriais. Em termos de toxicidade, a overdose de LSD é quase tão improvável quanto a do THC. Para ter uma overdose, um indivíduo precisaria aumentar em 1000 vezes a dose média. No entanto, as pessoas certamente podem fazer coisas estúpidas e perigosas sob a influência do LSD.

Outra característica em comum entre o LSD e a maconha são seus fins medicinais. Cientistas estudam como utilizar o LSD como um remédio contra a depressão. Testes em laboratório e com acompanhamento médico já mostraram que essa e outras drogas alucinógenas podem ser muito eficientes nestes casos.



2. Psilocibina





Ao contrário do LSD, a psilocibina é um psicodélico natural. Ela pode ser encontrada em várias espécies de cogumelos, conhecidos coloquialmente como “cogumelos mágicos”. Os cogumelos contendo psilocibina têm sido utilizados por suas propriedades “mágicas” para fins religiosos há milhares de anos.

Em termos de toxicidade, a psilocibina pura, como o LSD, é quase impossível de causar overdose. Assim como com o LSD, a dose efetiva média teria que ser aumentada 1000 vezes para alguém morrer de psilocibina, o que a torna muito menos letal do que o álcool.
Quando a psilocibina foi introduzida na cultura ocidental, seu potencial uso para tratamento da saúde mental já foi observado. Hoje, os médicos estão estudando como a psilocibina pode ajudar aqueles que sofrem de uma variedade de doenças mentais, e os resultados por enquanto são bastante positivos.



1. Mescalina




A mescalina é mais um alucinógeno. Porém, ao contrário do LSD ou dos cogumelos, não é muito difícil ter uma overdose com ela. Seria preciso aumentar a dose efetiva média em “apenas” 24 vezes – algo ainda distante do perigo do álcool.

Como a psilocibina, a mescalina é um alucinógeno natural, principalmente encontrado no cacto peiote, comum no sudoeste dos EUA e em boa parte do México. A mescalina tem uma história antiga, sendo usada desde a era pré-colombiana. Os astecas usavam o peiote por suas qualidades “divinas”.

O mais irônico é que alguns especialistas acreditam que a mescalina e os outros alucinógenos poderiam ser a chave para uma cura para o alcoolismo. [Listverse]



A Chacina de Fortaleza e a epidemia de assassinatos no Brasil

Chacina de Fortaleza segue padrão macabro: como boa parte dos homicídios no país, ocorreu em uma área pobre, vitimando sobretudo jovens negros e pardos


Após 10 minutos de tiroteio, mais 14 pessoas mortas e outras dez feridas. Foi a maior chacina do Ceará




Passava da meia noite quando o grupo de homens armados com coletes táticos, fuzis, pistolas e balaclavas apareceu no Bairro de Cajazeiras, uma área pobre da periferia de Fortaleza. Surgiram de três carros, estacionados nas proximidades de uma casa de shows popular por ali, o Forró do Gago.

Chegaram atirando. A primeira vítima foi um motorista de um aplicativo de transporte que levava uma passageira para a festa que agitava a rua Madre Teresa de Calcutá na madrugada do último sábado 27. Ordenaram que o homem saísse do veículo e o executaram sem nada dizer.

A passageira tentou fugir, mas também foi atingida. Em seguida, caminharam 50 metros atirando em qualquer pessoa que estivesse na rua. Um vendedor de cachorro quente foi morto na porta da casa de shows, e seu filho de 12 anos, que o ajudava, atingido na perna. Os homens entraram no Forró do Gago atirando a esmo, escolhendo as vítimas aleatoriamente. Após 10 minutos de tiroteio, mais 12 pessoas estavam mortas e outras dez feridas.

Foi a maior chacina da história do Ceará, um estado que vive uma epidemia de violência sem precedentes em sua história.

Apesar de inédita em sua dimensão, a chacina de Fortaleza segue um padrão macabro na espiral de violência sem controle que matou mais de 60 mil brasileiros apenas no ano passado e dizimou mais de meio milhão de pessoas ao longo da última década. Como boa parte dos assassinatos no Brasil, ela ocorreu em uma área pobre da cidade, vitimando em sua maioria jovens e, provavelmente, negros e pardos.

Assim como em todo o país, os crimes estão ligados, em diferentes estágios, à disputa pelo controle territorial entre facções criminosas que nacionalizaram suas ações a partir do Sudeste, principalmente em direção aos estados do Norte e do Nordeste. Repete, também, o ciclo de ações e reações violentas que caracterizam as regiões em que o Estado é ausente ou omisso.

"Apesar de sua dimensão assustadora, as mortes no Brasil são extremamente concentradas, tanto em faixa etária, quanto raça e localização geográfica", diz Renato Sérgio Lima, presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.


Concentração endêmica de homicídios


Assim como em Fortaleza, a maior parte dos homicídios no Brasil ocorre em áreas periféricas, com taxa de renda média, baixa escolaridade e Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) semelhante ao de países da África Subsaariana. Além disso, há uma concentração endêmica de homicídios entre negros e pardos. "Os números assustam a qualquer um, mas a noção de que os homicídios são algo que atinge toda a sociedade brasileira de forma equânime é algo que não corresponde à realidade", diz ele.

O Fórum Brasileiro de Segurança Pública desenvolve uma pesquisa anual com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada sobre os homicídios no Brasil. Batizado de Atlas da Violência, o estudo consegue dar uma dimensão clara das diferenças entre as vítimas da violência no Brasil.

Apenas em 2015, último ano tabulado até o momento pelo Atlas, 41 mil homens negros e pardos foram assassinados no Brasil, enquanto o número de vítimas não negras e pardas (brancos, amarelos) chegou à casa de 15 mil. "Não conseguimos fazer uma distinção sobre classe, com base na renda, mas os números que temos e os outros estudos realizados com base neles mostram que há uma correlação entre pobreza e violência muito forte."

Fortaleza é um exemplo claro disso. O Bairro de Cajazeiras, onde o ocorreu a tragédia, tem um IDH comparado com o da República Centro Africana, um dos países mais pobres da África. De acordo com um estudo da própria Secretaria de Pública de Segurança do Ceará, a região em que Cajazeiras está inserida é uma das mais violentas de Fortaleza, que, por sua vez, tem o título de terceira capital brasileira em número de homicídios.

Quase todos os bairros ao seu redor, onde se concentravam mais de 50% das mortes da cidade em 2012, data do último estudo, têm IDHs de nível africano. Nos bairros mais seguros, o Índice de Desenvolvimento Humano se aproxima de países do norte da Europa.

"A classe média não é vítima dessa epidemia de violência, quem está morrendo são os pobres e os negros, são os descendentes dos escravos, aqueles que sempre foram os párias dessa sociedade absurdamente desigual”, diz o sociólogo Jessé Souza.

Doutor em Sociologia pela Universidade Karl Ruprecht, de Heidelberg (Alemanha), Souza tem se dedicado a estudar a desigualdade no Brasil. Nos últimos 20 anos lançou mais de uma dezena de livros e estudos sobre o assunto.


Origens e crime organizado

Jessé Souza acredita que a extrema desigualdade da sociedade brasileira e a consequente violência que a marca são resultado das heranças escravocratas do país. Para ele, o Brasil jamais discutiu os 350 anos de escravidão e seus impactos na sociedade de uma maneira profunda.

"O que vemos é uma repetição do status quo do escravismo, em que 20% da sociedade brasileira pretendem subjugar os outros 80% e manter as benesses de se ter mão de obra a preço vil para executar serviços que ela considera vil", diz ele. "Como não ter violência?"


Bruno Paes Manso estuda há quase duas décadas as dinâmicas da criminalidade no Brasil. Jornalista e hoje pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo, Bruno passou a se interessar profundamente pelo assunto quando começou a perceber a redução abrupta dos assassinatos em São Paulo. Até os anos 2000, São Paulo era a campeã brasileira em assassinatos.

Em 1999, o estado paulista registrava mais de 15 mil homicídios, quase o dobro do Rio de Janeiro. Tinha 44 mortes por 100 mil habitantes, ocupando a quinta posição entre os estados do país. A partir daquele ano iniciou uma redução abrupta dos homicídios, até se tornar o estado do país com o menor índice de mortes por 100 mil habitantes do Brasil em 2015, com 12 mortes por grupo de 100 mil. Em números absolutos os homicídios despencaram para cerca de 5 mil mortes. "Fiquei obcecado em entender o que estava acontecendo", conta Bruno, na época repórter do jornal O Estado de S. Paulo.

A resposta encontrada por Bruno e por outros pesquisadores da violência estava naquela que seria a maior organização criminosa do Brasil, o Primeiro Comando da Capital (PCC). Nascido após o massacre de 111 presos na Penitenciária do Carandiru pela Polícia Militar de São Paulo, o PCC surgiu com ideais de justiça e autodefesa. A ideia era unir o mundo do crime contra o chamado sistema e impedir que situações como o Carandiru voltassem a ocorrer.

"Houve uma pacificação nas cadeias, já não era permitido oprimir o mais fraco, havia uma espécie de sistema judicial que controlava a vida no sistema prisional", conta Bruno. Logo, o PCC passou a também atrair bandidos que estavam nas ruas. Uma irmandade do crime nascia em São Paulo e logo ela se tornou hegemônica nas ruas da cidade e de todo o estado.

"O código de conduta das prisões foi para as periferias. Já não se podia ajustar as contas com um inimigo sem o aval do PCC, já não se podia roubar determinadas áreas sem o aval do "Partido". O resultado foi uma redução profunda nos crimes de vingança que marcaram toda a década de 80 e 90 em São Paulo. Agora, para matar era preciso de autorização.


Migração da violência

Foi a partir de meados da primeira metade da primeira década do ano 2000 que o PCC iniciou um processo de nacionalização que viria a custar a vida de dezenas de milhares de brasileiros.

O grupo passou a focar seus esforços no comércio e distribuição de cocaína. Para expandir o mercado, passou a se aliar a facções locais, que por sua vez tentavam repetir localmente o sucesso do grupo em São Paulo. As facções cariocas, em especial o Comando Vermelho, que já haviam iniciado um processo de nacionalização, se sentiram ameaçadas. Logo uma disputa de poder começou a se dar em áreas de grande crescimento do consumo de drogas, como no Norte e no Nordeste do país.

"Esse é um período de expansão econômica e do consumo, é o momento em que o Brasil passa a se tornar o segundo maior consumidor de cocaína e derivados do mundo", conta Bruno, que atribui à estratégia do governo em concentrar em prisões federais os líderes regionais do crime em um incentivo à nacionalização. "As redes de contato se ampliaram."

Em 1999 o Sudeste brasileiro produzia 26 mil cadáveres ao ano, enquanto o Nordeste tinha pouco mais de 8 mil homicídios registrados. Cerca de dez anos depois, a região conhecida por suas praias paradisíacas e pelo grande sertão já contava mais mortes que a parte mais industrializada do país. Em 2016, foram quase 25 mil assassinatos. Boa parte deles, dentro da dinâmica um dia experimentada por São Paulo.

Foi exatamente o que aconteceu na madrugada do último sábado no bairro de Cajazeiras. A chacina, com características de um ato de terror para intimidar a população local, foi reivindicada pela organização criminosa ligada ao PCC no estado, os Guardiões do Estado, ou, G.D.E.

A área onde ocorreram as mortes é controlada pela franquia do Comando Vermelho no estado. No sábado mesmo, pouco mais de 12 horas após os assassinatos, membros do CV, presos em uma das cadeias de segurança máxima do Ceará, enviaram um vídeo pelas redes sociais prometendo vingança.

Só neste primeiro mês de 2018, quase 300 pessoas já foram mortas no Ceará. Ao que tudo indica, os números vão continuar a crescer.



A MODA DO BANHO DE MAR




Quando o Brasil era colônia, tomar banho de mar era uma atividade, digamos, inusitada. Por uma série de fatores, principalmente religiosos, os europeus não eram adeptos da prática. Ninguém considerava costumeiro, nem civilizado, lagartear na areia até 1817.

Mas, naquele ano, o rei dom João VI faria um mergulho na Praia do Caju, hoje um lugar degradado na zona portuária do Rio de Janeiro. O monarca estava com a perna infeccionada por causa de um carrapato e seguia orientações médicas. Sem querer, ele inaugurou o costume que hoje lota as praias de banhistas e vendedores de queijo coalho.






O problema com o banho, acredite, vinha desde a Idade Média. As pessoas daquela época achavam que se banhar era uma prática de vaidade e luxúria, já que era preciso estar com o corpo nu. Em outras palavras, acreditavam que era pecado. Houve até leis que proibiam as pessoas a tomar mais de um banho por ano. O rei Dom João VI, que era católico fervoroso, obviamente era contra os banhos. Porém, ele foi obrigado a ceder por causa da ferida infeccionada.

Os médicos, no final do século XVIII, começaram a recomendar os banhos de mar porque o sal da água ajudava na cicatrização de ferimentos. Na França e na Grã-Bretanha, distintas senhoras já tomavam seus banhos para curar doenças físicas e até psíquicas. As teorias sobre o benefício do banho de mar eram a última palavra na medicina da Europa. A ideia de que a água – sobretudo a água salgada do Canal da Mancha – era um santo remédio veio de uma teoria do médico e religioso inglês John Floyer, nos primeiros anos do século XVIII.

Além de criticar a igreja por modernizar a cerimônia do batismo (que virara um mero espirro de gotas na testa), o doutor Floyer acreditava que o mar tinha poderes milagrosos até para paralíticos. Sua obra a História do Banho Frio, que explicava suas teorias, foi publicada em dois volumes, em 1701 e 1702.




A partir de então, veio uma enxurrada de publicações com métodos de tratamento usando a água do mar e o sal marinho. Os médicos de Dom João decidiram tentar, e a receita deu certo: o monarca curou-se, e com o sucesso do tratamento, os banhos atraíram a corte portuguesa que tinha fugido para o Brasil, com medo das tropas de Napoleão.

O traje de banho usado por dom João VI não era nada convencional, nem mesmo para a época. O rei de Portugal tinha medo dos caranguejos e só aceitou entrar na água dentro de um barril. O recipiente que lhe serviu de roupa tinha o fundo tapado. Na lateral havia um pequeno buraco, por onde a água entrava. Conforme as exigências do monarca, apenas suas pernas podiam ser molhadas…

Logo surgiram as primeiras casas de banhos terapêuticos, que ofereciam aos banhistas piscinas com água do mar e locais para se trocar e guardar as roupas, Em um anúncio de 2 de dezembro de 1811, do jornal A Gazeta do Rio de Janeiro, uma casa de banho oferecia seus serviços por 320 réis, o dobro do preço de um ingresso do Circo Olímpico, o principal da cidade.



Casa de Banho de água do Mar, no Rio de Janeiro, por volta de 1890.



O fato é que demorou muito para que o banho de mar não fosse visto como algo impuro, ou que afrontasse a religião. Lentamente, as pessoas sem recursos e que não podiam pagar o ingresso às casas de banho começaram a frequentar a praia. Inicialmente, as senhoras banhavam-se de madrugada, para não serem vistas. Mas não demorou para que as pessoas começassem a ir durante o dia, mesmo.

A preocupação do governo e dos banhistas com a falta de pudor nas praias era enorme. As regras eram rígidas.


Trajes de banho do começo do século XX




Em 1917, por exemplo, o prefeito carioca Amaro de Brito regulamentou os horários de praia. De 1° de abril a 30 de novembro, podia-se entrar na água das 6h às 9h e das 16h às 19h. No verão, das 5h às 8h e das 17h às 19h. Quem fosse pego em outros horários era punido com multa ou cinco dias de cadeia.

Com essa “flexibilização” do banho de mar, logo o Rio de Janeiro adotou uma nova moda em voga na Europa: as cabines de banho.


Cabines de Banho – Rio, Copacabana, 1916


Eram pequenas cabines de madeira sobre a areia (na Europa e nos Estados Unidos havia também aquelas sobre rodas, que eram puxadas para o mar – não sei se isso chegou ao Brasil). Essas cabines eram alugadas e as mulheres, na sua privacidade, mudavam suas roupas, colocando algo mais apropriado para banhar-se. Tudo isso para manter o decoro e não serem observadas por outras pessoas, principalmente os homens.


Essas eram as cabines de banho sobre rodas, que eram empurradas para o mar e a senhora tomava seu banho à vontade, longe dos olhares indiscretos. Quando a ocupante queria voltar, sinalizava para a praia e eles viriam buscar a cabine.






Os trajes que as mulheres usavam eram discretíssimos, e a primeira mulher a vestir um maiô de peça inteira, colado ao corpo, foi a campeã de natação Annette Kellerman. Kellerman ficou famosa por defender o direito de as mulheres usarem maiôs de uma peça, o que era um escândalo na época. De acordo com um jornal australiano, “No início de 1900, as mulheres usavam pesadas combinações e calças quando nadavam. Em 1907, no auge de sua popularidade, Kellerman foi presa em Massachusetts, por atentado ao pudor – ela estava usando um de seus maiôs de uma peça.”


A australiana Annette Kellerman.



A popularidade de seus maiôs de uma peça resultou na sua própria linha de roupas de banho para mulheres. Os maiôs “Kellermans”, como eram conhecidos, foram o primeiro passo para as roupas de banho femininas modernas.

A evolução das roupas de banho femininas seguiu as mudanças de costumes. O banho de mar já não era uma atividade “pecaminosa”, mas uma atividade saudável, e que exigia trajes mais confortáveis e que não abafassem tanto sob o calor do sol.






Tudo ia bem, até que, em 1946, o francês Louis Reard chocou o mundo ao mostrar dançarinas de cabaré com o umbigo à mostra, vestidas apenas com a sua invenção, o biquíni. Foi outro escândalo, como o de Kellerman décadas antes.





Quinze anos depois, a polêmica chegou ao Brasil: o biquíni foi proibido nas praias nacionais pelo pacote moralista do presidente Jânio Quadros, que vetou também corridas de cavalo, rinhas de galo e o lança-perfume. Mas a moda já tinha pego por aqui fazia tempo.

Em 1964, a novidade foi o monoquíni, que foi criticado pela Igreja mas apoiado por Roberto Carlos em “Eu sou fã do monoquíni”. Apesar do lobby do rei, o monoquíni foi uma tentativa de resposta à cultura de repressão ao corpo. Por aqui, chegou a ser vendido em algumas lojas do Rio, mas a peça só fez muita polêmica e nada de sucesso.




Pra quem não conhece (eu não conhecia), o Roberto Carlos assadinho:

Mas a vida continua. O banho de mar, hoje, é uma atividade democrática e que reúne, na areia, adultos, crianças e – em algumas praias – cachorros. Mas nada mais choca os olhos das pessoas, que convivem agradavelmente debaixo do sol.

Er… nada mais choca, só que não… De vez em quando, aparece uma ideia sobre roupa de banho que, pelamor… Nas praias do Hemisfério Norte, no verão passado, o “mankini” (biquíni para homens) deu o que falar. Dois sujeitos usaram esse modelito num fim de semana em Marbella, na Espanha, e a peça foi apontada como a coisa mais bizarra desde o surgimento de “Borat”…






Fontes:



odiarioimperial.blogspot.com.br

Wikipedia

magnusmundi.com


Ana Carolina Delgado – Licenciada em Relações Internacionais, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Residente em La Paz, Bolívia.



Há 30 anos, mídia acusava Lula de ser dono de mansão no Morumbi

As mentiras e boatos contra Lula ao longo da história




Não é de hoje que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sua família são vítimas de mentiras e boatos infundados. Não raramente, tais mentiras são repetidas e fomentadas por setores da imprensa, partidos políticos e até funcionários públicos, como promotores e delegados.

Sempre buscando atingir a imagem do ex-presidente, as mentiras costumavam ganhar mais força em períodos eleitorais, sempre com o objetivo de prejudicar o desempenho de Lula nas urnas. Via de regra, a estratégia resulta em fracasso, mas já houve casos em que o golpe baixo atingiu seus objetivos.

De envolvimento com sequestros a propriedade inventada de grandes imóveis, no Brasil ou no exterior. De tráfico de influência a estratagemas para obter favorecimentos jurídicos. Leia, abaixo, a lista de mentiras já inventadas contra Lula, todas devidamente desmentidas com provas ao longo dos tempos.



“Lula é dono de mansão no Morumbi”


Remonta ao início dos anos 1980 a primeira boataria de grandes proporções de que foi vítima o ex-presidente Lula. À época, ele recém fundara o PT, então um partido de proporções bem mais modestas do que hoje, com poucos mandatos eletivos conquistados.

Era o tempo em que pessoal que panfletava nas portas de fábricas em favor do PT ouvia rumores de que Lula tinha uma enorme mansão no Morumbi, e eram todos do partido uns tolos por acreditar no ex-sindicalista e no partido que fundara.

A boataria só teve fim anos depois, quando a realidade se impôs. Lula jamais deixou de morar em São Bernardo do Campo, desde que para lá se mudou, há cerca de 30 anos. Órgãos de fiscalização e controle, como Receita Federal e Ministério Público, jamais sequer aventaram a hipótese de Lula ser dono de uma mansão no Morumbi.



A falsa ligação com sequestradores


O empresário Abilio Diniz, ex-proprietário do Grupo Pão de Açúcar – foi sequestrado na capital paulista, em 11 de dezembro de 1989, entre o primeiro e o segundo turnos das eleições presidenciais de 1989, que estavam sendo disputadas em sua reta final por Lula e Fernando Collor de Mello.

Diniz foi libertado após ficar seis dias em cativeiro. O grupo de sequestradores era formado por quatro chilenos, três argentinos, dois canadenses e um brasileiro, ligados ao Movimento da Esquerda Revolucionária (MIR), que exigia resgate de US$ 30 milhões para libertar o empresário.

Após o estouro do cativeiro, a polícia paulista apresentou camisetas do PT e material de campanha de Lula, que teoricamente teriam sido encontrados em imóveis alugados pelo grupo de criminosos. O material acabou relacionando o Partido dos Trabalhadores à ação do MIR. Fernando Collor, então, fez farto uso do material em sua campanha.

A libertação do empresário aconteceu na véspera do segundo turno da eleição, quando Lula perdeu para Collor. A vinculação dos sequestradores ao PT foi avaliada como uma das causas da derrota do petista. A polícia só encerrou as investigações e colocou fim aos boatos meses depois das eleições, quando Collor já ocupava a Presidência da República.

O jornalista e escritor Mário Sérgio Conti esclareceu os fatos em seu livro “Notícias do Planalto”, publicado anos depois das eleições de 1989. “As investigações posteriores provaram que nenhum militante do PT estivera envolvido no sequestro de Abílio Diniz. Os sequestradores disseram em juízo que policiais civis os torturaram e, antes de os apresentarem à imprensa, os forçaram a vestir camisetas do PT.”

A Polícia Civil estava sob o comando do secretário da Segurança, Luiz Antônio Fleury Filho. A vítima, Abílio Diniz, protestou contra a tortura de seus algozes. Quase um ano depois, em outubro de 1990, o governador de São Paulo, Orestes Quércia, superior imediato de Fleury, disse numa entrevista ao Estado de S. Paulo que durante o sequestro ‘houve pressões no sentido de que se conduzissem as investigações para envolver o PT‘. Já o jornal “O Globo”, após as eleições, deu a manchete: “Sequestro de Abílio não foi político“.


As mentiras sobre a filha Lurian


Poucos dias antes do segundo turno das eleições presidenciais de 1989, Miriam Cordeiro, ex-namorada do então candidato do PT à Presidência, Lula, apareceu no programa eleitoral de seu adversário, Fernando Collor, para acusar o pai de sua filha Lurian de supostos defeitos morais. Ela o acusara de ser “racista”, “abortista” e de desprezar a filha que tinham tido.

Lula obteve direito de resposta concedido pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e, a pedido da própria filha, levou-a para frente das câmeras, onde desmentiu tudo que foi dito. Mas o estrago já havia sido e esta mentira foi mais um episódio a contribuir para derrota de Lula nas urnas em 1989.

Foi só anos mais tarde que a verdade veio à tona. A própria Miriam Cordeiro revelou que fora paga por Collor para caluniar o pai de sua filha naquele programa eleitoral. Sob o título “A vida confortável de Miriam Cordeiro“, reportagem publicada no Jornal do Brasil não deixava margem para dúvidas, tampouco as revelações de Miriam, que afirmou, referindo-se a contas da vida particular: “Eles (equipe de campanha de Collor) pagavam tudo“.


“Filho de Lula é dono da Friboi”


Um boato que se espalhou pela internet e redes sociais é o de que “o filho de Lula é dono da Friboi“. A Friboi é uma das maiores – se não a maior – indústria de proteína animal do mundo. Todas as mudanças em seu quadro acionário são acompanhadas de perto pelo mercado financeiro e pela imprensa econômica. Fosse algum filho de Lula um dos donos da Friboi, não haveria como tal fato não ser de conhecimento nacional, nem deixar de ganhar as páginas dos principais jornais do país.


Mas os fatos não são suficientes para barrar os boatos, que pululam nas redes sociais, sobre a propriedade do filho do Lula sobre a Friboi e muitos outros patrimônios, incluindo aviões, fazendas e até o campus de uma universidade pública.


A própria Friboi já teve que vir a público se manifestar contra a mentira. Já a família de Lula fez até B.O. na polícia na tentativa de conter os mentirosos. Chegaram a ser identificadas pelo menos seis pessoas dentre as que espalham mentiras sobre o patrimônio do filho do Lula.


Eles foram chamados a depor, e cinco compareceram. Intimados, justificaram suas atitudes dizendo acreditar que os comentários sobre a compra de fazendas e aviões fossem verdadeiros. Desculparam-se alegando que não teriam “pensado na hora de fazer as postagens”. Apenas um dos intimados, Daniel Graziano, filho do dirigente do PSDB Xico Graziano, ex-chefe de gabinete e ex-secretário particular de Fernando Henrique Cardoso não compareceu. À época, ele era gerente administrativo e financeiro do Instituto FHC.


Ainda sobre “o filho do Lula“, um dos últimos boatos apresentou como casa central de uma “fazenda do filho do Lula,” em Araçatuba (SP), a majestosa sede da Escola Superior de Agricultura Luíz de Queirós (Esalq – USP), que pode ser vista na imagem acima.






Após deixar a Presidência da República, em 2010, Lula era reconhecido mundialmente como um estadista que acabara de realizar a maior transformação social que o país já vivera. Passou a cobrar para dar palestras o mesmo valor que cobrava o ex-presidente Bill Clinton, e empresas como a InfoGlobo, que edita os jornais O Globo e Extra, não hesitaram em pagar, conforme já publicou a própria empresa, em reportagem no O Globo: “Além de divulgar o evento em seus jornais, a Infoglobo arcou com os custos dos palestrantes, inclusive do ex- presidente Lula“.

Procuradores do Ministério Público Federal no Distrito Federal, no entanto, afirmaram em mais de uma oportunidade que tinham desconfiança de que Lula não havia proferido as palestras que proferiu a empresas ao redor do mundo. Especificamente, afirmavam que Lula não havia proferido duas palestras na Angola, nos anos de 2011 e 2014.

Foi preciso que o Instituto Lula divulgasse a lista completa de palestras, bem como vídeos de algumas delas, proferidas em países tão díspares quanto Inglaterra e Angola, para acabar com a boataria que teve origem no núcleo duro do Ministério Público Federal no Distrito Federal. Clique aqui para assistir à palestra proferida por Lula na Angola em 2011, e aqui para acompanhar a palestra de 2014 do ex-presidente no país africano.


“Lula é dono de mansão no Uruguai”


No ano passado, a revista Isto É, que recentemente viu multiplicar as verbas de publicidade advindas da Presidência da República , publicou reportagem em que afirmava ser Lula proprietário de uma mansão no Uruguai, na praia de Punta del Este.

Sem apresentar qualquer documento que comprovasse a exótica tese, o semanário se baseava em boatos ouvidos de guias turísticos. Em que pese a falta de provas, a negativa do ex-presidente e o fato de Lula jamais ter pisado em Pubta desde que deixou a Presidência, em 2010, a revista não deixou de publicar matéria de capa sobre o assunto. O jornalista da TV Globo Alexandre Garcia, então, deixou-se enganar pelo boato, e passou também a espalha-lo.

Semanas depois, visivelmente constrangido, Garcia publicou um desmentido de si mesmo. O áudio gravado pelo jornalista pode ser ouvido aqui. Já a revista Isto É ainda não se manifestou publicamente sobre o assunto.

Em junho de 2012, a revista Veja acusou Lula de ter pressionado o ministro do STF Gilmar Mendes para adiar o julgamento do mensalão. Nelson Jobim, ex-deputado, ex-ministro do Supremo e ex-ministro da Justiça e da Defesa, que acompanhou o encontro, e Lula sempre negaram essa versão. Gilmar Mendes deixou a imprensa fazer barulho sobre o assunto, mas quando o Ministério Público quis ouvi-lo sobre o caso, não foi depor.

Anos depois, ao explicar o motivo de ter pego uma carona com o presidente em exercício, Michel Temer, até Portugal, onde o jurista queria passar férias, Mendes acabou provando o que Lula e Nelson Jobim diziam.

Em entrevista ao jornal O Globo, tratando do assunto, ele deixou claro que Lula nunca lhe pediu nada. “Jantei inúmeras vezes com Lula no Palácio da Alvorada, e as nossas mulheres sempre mantiveram um relacionamento de amizade. Mas nunca acenei com facilidades, e Lula nunca me pediu nada”


As mentiras da vez: tríplex e sítio


Atualmente, a mentira que se conta é a de que Lula seria dono de um apartamento no Guarujá e de um sítio em Atibaia, no litoral e no interior de São Paulo, respectivamente. Líder nas pesquisas de intenção de voto para as eleições presidenciais de 2018, o ex-presidente sabe que o boato não será desmentido de livre e espontânea vontade tão cedo.

Os advogados de Lula não se cansam de provar na Justiça que essas não passam de mais mentiras a serem somadas à extensa lista de que Lula é vítima. Em Atibaia, Lula frequentava o sítio de amigos de décadas da família, mas o sítio não é dele, mas sim de donos reconhecidos que comprovaram a origem dos recursos para compra. E Lula ou sua família jamais foram donos, tiveram a chave ou usaram o apartamento do Guarujá. Lula esteve lá uma única vez, e sua esposa duas vezes, para avaliar se comprariam ou não o apartamento. Mais uma vez, como em todas as outras, o tempo se encarregará de trazer a verdade à tona. 


(Com informações da Folha de SP e Assessoria do Instituto Lula)


Vídeo: PM suspeito de estuprar jovem de 18 anos em SP



Vídeo flagra momento em que homem ataca e estupra jovem de 18 anos em São Paulo. Criminoso manteve uma arma apontada para a vítima e a violentou por 30 minutos. Policial militar suspeito de cometer o crime se entregou



Um policial militar é um dos principais suspeitos de ter estuprado uma jovem de 18 no último dia 14 de janeiro, na zona leste de São Paulo.

O PM, que teve o pedido de prisão temporária decretado pela Polícia Civil, se apresentou à delegacia e foi ouvido e liberado na tarde desta segunda-feira (22).

Imagens (ver abaixo) de uma câmera de segurança flagraram o momento em que a técnica em nutrição é atacada, às 7h, pelo criminoso.


O homem, que dirigia um Fiat Siena preto, desce, espera a vítima se aproximar e a puxa pelos braços. Ele obriga a mulher a entrar no banco de trás do veículo. O PM suspeito tem um carro da mesma marca, modelo e cor.

Dentro do carro, o criminoso manteve uma arma apontada para a vítima e a estuprou por 30 minutos, segundo a Polícia Civil.

O caso também é investigado pela Corregedoria da Polícia Militar e acompanhado pelo ouvidor das duas polícias, Julio Cesar Fernandes.

A equipe que ouvia o cabo na tarde desta segunda informou à reportagem que iria “preservar os investigados até a finalização do inquérito”.

À polícia, a vítima relatou que não sabe se o criminoso usou preservativo. Enquanto a estuprava, ele impediu que ela olhasse seu rosto.

“Minha filha está muito abalada e não quer falar sobre o assunto”, disse a mãe da vítima, que foi submetida a exame sexológico.

“Ela foi bem atendida, tanto na delegacia quanto no hospital. Agora, está descansando e sob os cuidados da família. A gente fica revoltada, mas queremos Justiça. O meliante que fez isso tem que pagar de um jeito ou de outro”, declarou a mãe, que é auxiliar de limpeza.

A polícia instaurou inquérito para investigar o estupro. “Mais detalhes não serão divulgados para não atrapalhar o trabalho policial, bem como para preservação da vítima de violência sexual”, afirmaram os investigadores.

A Corregedoria da PM informou que neste domingo (21) foi feita busca e apreensão na casa do cabo da corporação, mas que ele não estava no local.


A Ouvidoria da Polícia de São Paulo enviou ofícios ao MP (Ministério Público) e Corregedoria da PM pedindo que a investigação seja rigorosa.

“O ideal é que um promotor acompanhe a investigação para que, havendo indícios sérios, que o PM seja denunciado e que venha a responder por esse crime bárbaro”, disse o ouvidor Julio Cesar Neves.

No entanto, ele pede que a investigação seja isenta de “corporativismo”: “Tem que ter uma investigação. E ele tem que ter o direito de se defender, através de um processo legal. Ficando comprovado que não era ele, ele não deve responder. Do contrário, deve responder administrativamente e criminalmente”, afirmou Neves.


PM suspeito assediou jovem na mesma região
Na mesma região da zona leste da capital, no bairro de José Bonifácio, o PM suspeito de ter estuprado a técnica em nutrição teve de assinar um termo circunstanciado de importunação ofensiva ao pudor por ter assediado uma estudante de 19 anos.

O caso ocorreu no dia 4 de dezembro do ano passado, às 9h. O carro que ele dirigia é do mesmo modelo e cor flagrado no estupro da técnica em nutrição: o Siena preto.

De acordo com o Boletim de Ocorrência registrado pela estudante em dezembro, ela parou um carro da PM e informou que um homem “tinha passado com um carro Siena preto e tinha mostrado o órgão genital e proferido as seguintes palavras: ‘olha que gostosa'”.

Os PMs a convidaram para entrar no carro da corporação e andar pelo bairro para tentar localizar o assediador. Próximo a um mercado, ela o reconheceu.

Foi feita abordagem e constatado que o homem é um cabo da Polícia Militar. Questionado sobre o ocorrido, ele negou o ato. Ele e a vítima foram levados ao 103º DP, na Cohab II, em Itaquera. Lá, ele assinou o termo circunstanciado e foi embora.

informações de UOL e G1

Misoginia na música: não é só uma violência de leve


Por Bárbara Aragão e Sueine Souza em Justificando - Carta Capital

Antes de expor ou iniciar qualquer análise sobre os fatos que nos fizeram escrever este artigo, é importante esclarecer sobre o que estamos tratando. Em síntese: misoginia e apologia ao estupro. Mais especificamente, misoginia difundida pelo meio musical e as armadilhas que nos fazem aceitar essa apologia de forma tão passiva.


O termo misoginia deve ser entendido com o sentimento de repulsa, desprezo e/ou aversão às mulheres. Não tem nada a ver com desejo sexual, mas sim com o sentimento interno de raiva, seja a mulher seu objeto de desejo ou não.

Misoginia, portanto, é aversão às pessoas do gênero feminino. Não se trata de machismo.

É mais grave, não é simples reprodução de costumes que limitam os direitos da mulher. É repulsa, ódio que motiva maus tratos e ridicularização; é o ato de ter prazer com o sofrimento e a humilhação da mulher, seja produzindo-o ou o presenciando.

Essa depreciação das mulheres, muitas vezes disfarçada, foi evidenciada na recente música “surubinha de leve”, que vem ganhando destaque nas mídias sociais, motivando protestos e discussões acaloradas.

Eis um trecho da música:
Hoje vai rolar suruba
Só uma surubinha de leve
Surubinha de leve
Com essas filha da puta [sic]

A última frase revela um claro desprezo àquelas mulheres com as quais vão se relacionar. Não é só machismo. É destilação de ódio, que claramente não resultará em qualquer tipo de relação saudável, seja casual ou não. É uma relação doentia, abusiva, violadora. E o pior: difundida banalmente à massa social, inclusive para adolescentes com personalidade em formação.

É necessário destacar que a música, assim como a propaganda, teatro, filmes, etc são veiculadores de mensagens, ideologias e podem ser manifestações culturais que reforçam uma cultura de violência contra mulher, já tão naturalizada no seio social. Ainda que diretamente a música não cause violência, ela opera por reforço uma imagem de submissão e inferioridade feminina.

Prova disso é, ainda, a segunda parte da música que acaba por ressaltar a banalização do estupro na cultura brasileira:
Taca a bebida
Depois taca a pica
E abandona na rua

Diante disso, nos perguntamos: como isso por ser aceito, como pode ter sido aprovado por uma gravadora, ter pessoas defendendo? Como pode figurar entre as mais ouvidas nas plataformas musicais?

A resposta está na própria manifestação do cantor, em sua rede social, ao defender sua canção, alegando que “apenas fiz a música da realidade que vivo e muitos brasileiros vivem”.

E o que se tem é que a produção cultural está entrelaçada com a sociedade, é um produto e um agente desta. Sendo assim, infelizmente, da mesma forma que o ódio e a intolerância existentes na sociedade influenciam o meio musical, igualmente, a música também acaba reforçando ainda mais essa violência, em um processo de retroalimentação. Reforça-se o preconceito contra a mulher e naturaliza-se ainda mais a cultura de sua desumanização. Ou seja, opera-se por reforçar o ódio.

Claro que a incitação da violência contra a mulher não é uma novidade no meio musical, que permeia até músicas infantis como “Maria Chiquinha” [“então eu vou te cortar a cabeça, Maria Chiquinha/ Então eu vou te cortar a cabeça/ que cocê vai fazer com o resto, Genaro, meu bem?/Que cocê vai fazer com o resto?/O resto? Pode deixar que eu aproveito”] , pagode [“Mas se ela vacilar, vou dar um castigo nela/ vou lhe dar uma banda de frente/quebrar cinco dentes e quatro costelas” – Zeca Pagodinho], samba [“Mas que mulher indigesta/merece um tijolo na testa”- Noel Rosa], rock [“No coletivo o que manda é a lei do pau/quem esfrega nos outros/quem não tem só se dá mal – Raimundos] e demais ritmos musicais.

Destaca-se que doses aparentemente inofensiva de violência estão sendo aceitas principalmente sob o argumento de que tais músicas apoiam a liberdade sexual feminina e difundem a cultura de determinados nichos sociais.

Contudo, é preciso separar o joio do trigo: músicas sobre sexualidade feminina são sim libertadoras, conquanto não contenham manifestações misóginas e objetificadoras da mulher. Afinal, rebolar a derrière não é ser um. Ser interessada em sexo não é estar disponível ao sexo a todo momento. Ter o corpo formado não é estar preparada para ter relações sexuais.

Logo, qualquer estilo de música, não importa a sua origem, o artista, sua relevância ou popularidade, tem que respeitar a dignidade e o valor da mulher como ser humano.

É óbvio, sabemos.

Mas o óbvio ainda não é praticado.

Então lutemos até que seja. Em conclusão, nos atrevemos a dizer que, se ultrapassarmos essas pequenas grandes armadilhas do patriarcado, sem dúvida chegaremos ao ponto em que reflexões como esta não sejam mais necessárias.


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Bárbara Aragão e Sueine Souza são Procuradoras do Estado de São Paulo. 


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