De Cabral à Cabral - Aldeia Maracanã


Audiência com índios no Rio acaba sem acordo

Terminou em impasse audiência de conciliação realizada pela Justiça Federal para tentar resolver a situação de 21 índios que ocuparam na noite de sábado o Museu do Índio, em Botafogo, na zona sul do Rio. O objetivo era conseguir um alojamento para o grupo e o representante da Fundação Nacional do Índio (Funai) ofereceu quatro diárias em um albergue na Glória, zona sul. Não houve acordo e os índios deixaram o prédio.

O grupo foi retirado na sexta-feira da Aldeia Maracanã, no terreno do antigo Museu do Índio, na zona norte, em operação de reintegração de posse que terminou em violência, com manifestantes agredidos por policiais do Batalhão de Choque. O juiz federal de plantão Wilson José Witzel chegou a ordenar a prisão dos índios e de cerca de 30 ativistas que ocuparam o museu de Botafogo, mas a decisão acabou revogada após negociação pacífica encerrada no início da manhã de domingo. 

O grupo foi levado para o prédio da Justiça Federal, no centro, onde participou da audiência, que também teve a presença de uma procuradora federal, dois antropólogos e dois advogados.Intimada pelo juiz, a presidência da Funai enviou de Brasília o ouvidor da entidade, Paulo Celso de Oliveira. Também intimado, o governo do Estado não mandou representantes. À tarde, o juiz determinou uma inspeção em prédio desativado do Ministério da Agricultura que fica ao lado do antigo Museu do Índio, no Maracanã, que o governo ameaçou demolir e agora pretende transformar em Museu Olímpico. No entanto, verificou-se que o local, transformado em canteiro de obras para a reforma do estádio do Maracanã, não oferecia condições para abrigar o grupo.

Os 21 índios recusaram a solução apresentada pela secretaria de Direitos Humanos do Estado: passar as noites de sexta e sábado em um hotel da prefeitura que recebe moradores de rua, no centro, e seguir neste domingo para um terreno que abrigou uma colônia de portadores de hanseníase, em Jacarepaguá, na zona oeste, onde ficariam provisoriamente alojados em contêineres. Outro grupo de 12 índios aceitou a proposta do governo e seguiu para lá hoje."Não queremos abrigo. Se não voltarmos para a Aldeia Maracanã, a solução é o Museu do Índio, que é nossa casa também", disse Urutau Guajajara, de 52 anos, que estava desde 2006 na Aldeia Maracanã. Durante a audiência, índios criticaram a postura de Oliveira. "A Funai não nos representa! São 513 anos de perseguição contra a cultura indígena!"


Índios foram "tratados como bandidos" pelos policiais, diz cacique Tukano
O cacique Carlos Tukano, um dos representantes da Aldeia Maracanã, criticou a ação da polícia durante a reintegração de posse do prédio do antigo Museu do Índio, na manhã desta sexta-feira (22). Segundo ele, que diz que os índios foram tratados como bandidos, a forma violenta com que agiram os policiais do Batalhão de Choque da Polícia Militar foi lamentável.
Durante a ação, os policiais militares desocuparam o terreno do antigo Museu do Índio munidos de balas de borracha, bombas de efeito moral e spray de pimenta. Eles enfrentaram a resistência de índios, ativistas e políticos e usaram da força para garantir a desocupação do local. 
"Para mim foi uma atitude triste, arbitrária, de uma forma nada pacífica. Nos trataram como se fossemos bandidos, fora da lei. Fiquei muito triste com todo o ocorrido", afirmou Tukano, ressaltando que já imaginava que seria usada a força por parte da PM.

Ação truculenta na desocupação do Museu do Índio repercute mundialmente

A retirada de forma truculenta dos índios e manifestantes que ocupavam o antigo Museu do Índio, pelo Batalhão de Choque da PM, recebeu ampla repercussão da mídia internacional. Nas redes sociais também é grande o número de pessoas condenando a decisão do governo.
Após clima de muita tensão e expectativa desde as primeiras horas desta sexta-feira (22), a policia entrou, por volta das 11h50, na Aldeia Maracanã para cumprir a ordem de desocupação do local. Munidos de balas de borracha, bombas de efeito moral e spray de pimenta, eles enfrentaram a resistência de índios, ativistas e políticos e usaram da força para garantir a desocupação do terreno.
O defensor público Daniel Macedo, que acompanha o caso desde o início da polêmica, afirmou que a invasão policial foi precipitada, e utilizou força desproporcional. "Estamos estudando a possibilidade de entrar com uma representação contra o comandante por crime de abuso de autoridade"
A rede BBC da Inglaterra também deu destaque à ação: "Polícia brasileira expulsa manifestantes de museu indígena".
Outro jornal ingles, o Daily Mail, enfatizou a ação truculenta. "Tumulto no Maracanã! Policia brasileira espanta nervoso protesto como parte das preparações para a Copa do Mundo"

"Presidente Castelo Branco é como se chama a avenida na qual se situa o prédio do antigo Museu do Índio (que, por sua vez, abrigava até a manhã de hoje a Aldeia Maracanã). Posso dizer que é um nome que combina muito com as arbitrariedades que vi por lá hoje, perpetradas a mando do governador Sergio Cabral Filho. É até difícil elencá-las...
O Batalhão de Choque da Polícia Militar cercou o local às 3 horas da madrugada. Ao longo da manhã era possível ver dois Caveirões estacionados e helicópteros sobrevoando a Aldeia. Daí vem algumas perguntas: por que cercar o local na calada da noite, se operações do tipo só podem ser realizadas, por lei, a partir das 6 horas da manhã? Por que levar dois caveirões, se eles não seriam utilizados (ou alguém acha que iam invadir o terreno com eles?)? Por que helicópteros fazendo voos rasantes, se eles sequer seriam utilizados durante a invasão? A resposta é só uma: para causar terror.
Durante a fuga do Choque, que implacavelmente perseguia os manifestantes, muitos tentaram se refugiar na UERJ. Em vão: os portões foram fechados e os funcionários estavam proibidos de deixar qualquer um entrar (algo que também não ocorreu nem na ditadura).
Fico me perguntando: de fato nos livramos do regime ditatorial? O nome da avenida e perpetuação de uma lógica autoritária de segurança pública me fazem crer que não. Estamos diante de um arremedo de democracia. Mas isso não me desanima, muito pelo contrário: só me dá mais vontade de seguir na luta por um mundo onde a liberdade seja mais que um verbete no dicionário." (Por Matheus Rodrigues - Racismo Ambiental)




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