Débora Diniz conta as histórias de Lucia e Suzana, duas crianças que tiveram as vidas marcadas pelo abuso sexual
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Crédito Pixabay |
Por DEBORA DINIZ - Via AzMina
Lucia e Susana são duas meninas. Seriam só duas meninas que brincavam e cresciam em uma cidade da Nicarágua. Como outros países latino americanos e caribenhos, a Nicarágua não é um país seguro para as mulheres, e lá, como aqui, as meninas são vítimas de estupro.
A avó de Lucia era católica, queria a menina na igreja. Ali estaria bem cuidada, pensava.
Nas missas e orações, Lucia notava que o padre a olhava de jeito diferente. Não poderia imaginar que aquele homem tão respeitado por todos da comunidade seria um violentador.
Susana era ainda mais miudinha, sete anos, quando o avô resolveu que ela não iria à escola, dizia que estudo era tolice, e a levava para o meio da roça. Só os dois, sem ninguém para escutá-la, o velho afiava um facão e lhe tirava a roupa.
Lucia e Susana foram vítimas de estupro intrafamiliar. Os homens eram da casa ou da vizinhança. Gente respeitada e conhecida, de confiança e afeto da família. As duas esconderam o quanto podiam a violência, mas queriam ter podido contar ao mundo. Eles diziam que ninguém acreditaria nelas. Lucia engravidou, com três meses o corpo denunciou o segredo.
Acho que eu não aguentaria ver as meninas. As vozes verdadeiras já foram muito para encarnar a brutalidade do estupro contra meninas. Os dois rostos foram substituídos por aquarelas que se desfazem na tela – há uma delicadeza entre a vida e a arte no filme realizado pelo coletivo de mulheres Axayacatl.
Nenhum dos dois homens foi preso, e mesmo que o tivessem sido, aqui e lá, a prisão seria só uma peça de alívio para os casos.
A verdade é que precisamos entender e enfrentar a violência sexual contra as meninas como uma grave infração de direitos humanos: destrói-se a existência das meninas, roubando-lhes um projeto de futuro livre, deixando no lugar uma cicatriz de angústia e sofrimento.
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