O exército sul-coreano começou a investigar uma campanha de 'limpar' os gays do Exército

Foi revelado que o Exército sul-coreano estaria “limpando” suas forças de gays e punindo os homossexuais.


O Exército sul-coreano é acusado de violações dos direitos humanos e de ameaças e coerções
Foi revelado que o Exército sul-coreano estaria "limpando" suas forças de gays e punindo os homossexuais. Cumprindo ordens superiores, o ROK Comando de Investigação do Exército (CIE) teria começado uma investigação este ano. O Exército sul-coreano é acusado de violações dos direitos humanos e de ameaças e coerções.
Representando o Centro Para Direitos Humanos (MHRCK), Lim TaeHoon concedeu entrevista coletiva na semana passada no Memorial Mapo Lee HanYul, em Seul. "Este ano, ouvimos relatos chocantes de várias vítimas", afirmou Lim.
Segundo seu relato, o CIE estaria trabalhando num caso relacionado a infrações de telecomunicações quando descobriu-se que a pessoa investigada era homossexual. A partir de então, a agência começou a ampliar o escopo da investigação, interrogando o suspeito em questão e procurando a identidade de outros gays no Exército. Na realidade, abriu-se uma nova investigação.

O CIE começou a "eliminar" gays indiscriminadamente. Lim TaeHoon afirmou que o CIE "está usando uma tática de arrastão, para pegar todos os peixes de uma só vez". "
É a primeira vez que [o Exército] abre uma investigação planejada e deliberada contra os gays no Exército."
O Exército se baseia na seção 92.6 do Código Militar (a provisão que trata de perversão sexual), que condena o ato de "sexo anal". Segundo Lim, "essa seção é altamente contestável em termos de sua constitucionalidade e também não proíbe o ato somente entre gays". Ele afirmou tratar-se de uma "caça às bruxas".
Lim também disse que "quase não há casos prévios de uso dessa provisão para punir gays. Os casos são tão insignificantes que quase não têm relevância estatística, o que leva à conjectura de que o Exército talvez esteja interessado em reafirmar a relevância desse código [constitucionalmente questionável]".
Em comunicado oficial, a entidade afirmou que a investigação em curso "viola amplos direitos humanos". Os investigadores não apenas estariam ameaçando os soldados com a possibilidade de tornar pública sua homossexualidade, mas também coagindo-os a confessar atos homossexuais, posições, uso de camisinha, primeiros encontros homossexuais etc.
Segundo informações colhidas junto aos soldados, os investigadores também atormentaram os soldados com comentários pejorativos, como "esperamos que você redescubra sua orientação sexual correta" e "é bom transar com homens?" Os investigadores também usaram aplicativos de encontros para gays como isca para os soldados homossexuais.
A entidade afirmou que 15 oficiais fora alvo de investigação, e 40 ou 50 outras pessoas são suspeitas. N mesmo dia do anúncio do MHRCK, revelou-se que um mandado de prisão havia sido executado contra um soldado.
O MHRCK também afirma que "a equipe de investigação coletou toneladas de informações pessoais, no total de 400 páginas, incluindo fotos de vários militares que seriam gays... e estão usando o material para caçá-los, o que necessariamente vai resultar em mais vítimas".
O MHRCK afirma que a investigação foi determinada pelo general Jang JunKyu. Segundo Lim, "quando perguntou-se quem era o responsável, a resposta inevitável foi que a ordem vinha de cima". Ele acrescentou: "Segundo vários testemunhos e situações, esse tipo de investigação não teria sido possível sem a ordem superior".
As infrações preveem pena máxima de dois anos de prisão. O MHRCK afirma: "Que um militar perca sua patente e vá para a cadeia simplesmente por ser gay equivale a prisões ilegais, torturas, execuções etc que podem ocorrer em países como Rússia, Tchetchênia e alguns países do Oriente Médio de histórico deplorável em direitos humanos".
A entidade também aponta que "é difícil acreditar que tal barbárie tenha acontecido na Coreia do Sul, que está em seu quarto mandato consecutivo como integrante do Conselho de Direitos Humanos da ONU". "Vamos participar da reunião do Conselho de Direitos Humanos da ONU para divulgar essa questão." O MHRCK acrescentou que "o general Jang JunKyu é obviamente incapaz de liderar o Exército... [Ele precisa] assumir a responsabilidade... e renunciar imediatamente."
O Exército nega qualquer tipo de "limpeza" e afirma em comunicado que "descobrimos que militares da ativa compartilharam em uma rede social um vídeo contendo ato sexual entre dois indivíduos do mesmo sexo. Depois de uma investigação que identificou os indivíduos envolvidos, prisões foram realizadas, seguindo a lei. Estamos na fase de investigação".
O Exército também afirma que "a investigação observa os direitos humanos e a privacidade e está sendo conduzida de acordo com as regras e as leis", acrescentando que "a identidade dos oficiais homossexuais no Exército são mantidas no mais estrito segredo".
Essas afirmações são refutadas pelo MHRCK, que afirma: "quando o suspeito cooperava, sua identidade era compartilhada apenas com seu supervisor imediato e o supervisor assistente, mas, se não houvesse cooperação, sua identidade era compartilhada com toda a cadeia de comando".
O Exército afirma: "Relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo não são apenas ilegais atualmente como o código militar, devido a questões de moral das tropas, pune tais atos como 'perversão'. Para manter os padrões militares, o Exército vai continuar punindo atos luxuriosos, de acordo com a lei".
O MHRCK e outras entidades de defesa dos direitos humanos afirmam que a lei não se aplica a casos em que há consentimento. Há vários projetos de lei para retirar essa seção do Código Militar.
Apesar de existir um código que afirma que "qualquer ato sexual nas residências militares ocupadas por um soldado homossexual são proibidas", o MHRCK observa que a investigação atual não ofereceu provas de que atos sexuais tenha ocorrido em dependências do Exército, o que levaria à conclusão de que a CEI estaria promovendo uma "limpeza".
"Fomos informados de que os soldados foram questionados repetidas vezes sobre sexo oral, independentemente de estarem em dependências militares", afirmou Lim, acrescentando: "Eles se aproveitaram do fato de que as vítimas tinham pouco conhecimento das leis e sanções aplicáveis".
Finalmente, deve-se notar que tentativas de "limpar" o Exército, assim como interrogar os soldados sobre experiências sexuais passadas, vai de encontro à seção 254.1 do Código Militar, que proíbe "esforços para identificar" homossexuais, e também à seção 154.2, que proíbe "perguntas sobre histórico sexual e outras questões de natureza pessoal".

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