Ideia de que crianças criadas por casais homoafetivos tendem a apresentar problemas de comportamento não tem fundamento, garante especialista
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Foto: David Walter Banks / The New York Times
Porém, novas pesquisas sugerem que esse tipo de medo não tem fundamento. Por meio da análise preliminar de dados do censo norte-americano e de outras fontes, Michael J. Rosenfeld, da Universidade de Stanford, revelou que quaisquer problemas que as crianças possam apresentar podem ter origem em outros fatores, como a ruptura do casamento dos pais biológicos.
"Uma vez que esses fatores forem levados em conta, os filhos de pais do mesmo sexo são idênticos aos de pais heterossexuais", afirma Rosenfeld, autor do livro "The Age of Independence: Interracial Unions, Same-Sex Unions, and the Changing American Family" ("A Era da Independência: Uniões Inter-Raciais, Homoafetivas e a Mudança da Família Americana", em tradução livre).
Além disso, casais com dois pais, contrariando estereótipos, demonstram ser exemplares na vida doméstica. Em seu estudo de longa duração com famílias não convencionais, Judith Stacey, professora de análise social e cultural na Universidade de Nova York, revelou que as famílias mais estáveis de todas eram as lideradas por homens gays que tiveram os filhos juntos. "Ao longo de 14 anos, fiquei chocada em descobrir que nenhum dos casais de homens gays envolvidos no estudo havia se separado, absolutamente nenhum", afirma Judith.
Stacey, autora do livro "Unhitched: Love, Marriage and Family Values From West Hollywood to Western China" ("Desligado: Amor, Casamento e Valores Familiares de West Hollywood ao Oeste da China", em tradução livre), atribuiu o sucesso à autoseleção. "É muito difícil para os homens se tornarem pais. Apenas um pequeno percentual está disposto a assumir esse compromisso", afirma.
Não há dúvidas em relação ao aumento dos filhos de casais homoafetivos. De acordo com o Instituto Williams da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, o número de casais gays com filhos mais do que dobrou desde a década passada e já passa dos cem mil nos Estados Unidos. Outras estimativas calculam que o número de crianças que vivem com pais gays –tanto casais quanto solteiros– aproxima-se de dois milhões. Ou seja, uma em cada 37 crianças com menos de 18 anos.
Por trás do crescimento da paternidade de casais homoafetivos está o sucesso do movimento pela igualdade de direitos, que levou à legalização do casamento gay em 16 estados norte-americanos e ajudou a facilitar as políticas de adoção em outros lugares. Em 2009, 19% dos casais homoafetivos com filhos afirmavam que as crianças haviam sido adotadas. Em 2000, o total era de 10%. Pais homossexuais têm quatro vezes mais chances de criar filhos adotados, se comparados aos heterossexuais.
A família Schulte-Wayser
O sobrenome da família Schulte-Wayser não tinha hífen e eles assinavam apenas o nome Wayser. Os dois haviam se separado. Wayser vivia sozinho em Los Angeles e sua carreira como advogado estava indo de vento em popa. Mas ele havia se cansado de se preocupar apenas com o trabalho. "Precisava começar a me ver como pai", afirma.
Sua mãe ficou felicíssima e se ofereceu para pagar os custos de uma barriga de aluguel, que carregasse o bebê concebido com seu esperma, mas Wayser disse não. "Queria ter alguém que não compartilhasse meus genes. Alguém que fosse completamente diferente de mim", diz.
Ele se encontrou com um advogado especializado em adoções em março de 2000 e, em junho, tinha uma filha recém-nascida, Julie. Alguns meses depois, Schulte ligou para conversar, ouviu Julie chorando ao fundo e resolveu visitá-la. "Foi amor à primeira vista", afirmou Schulte. "Eu usei Julie como isca", reconheceu Wayser. E o antigo namorado mordeu.
"Éramos um casal outra vez", afirmou Schulte. "Ou melhor: éramos uma família", corrigiu. Mais tarde, ele e Wayser se casaram em Malibu. De 2002 a 2009, quatro irmãos e uma irmã se juntaram à família –Derek, AJ, Isaac, Shayna e Joey (todos de uma única mãe). "Esse é meu limite", afirmou Wayser. "Não temos mais espaço".
Wayser admite que se preocupava. Algumas das crianças têm dificuldades de aprendizado, o que exige horas de acompanhamento escolar e ele não sabe os tipos de comportamento de risco que a mãe teve durante a gravidez.
Porém, ele não gosta quando as pessoas notam a cor da pele de seus filhos, bem como seus óbvios recursos financeiros, e falam sobre como ele é nobre e como aqueles crianças tiveram sorte. "Não, quem tem sorte aqui sou eu!", afirma. "Não estou tentando salvar o mundo."
Fonte - Folha Social |
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