Paulo Freire e a nova escola

“Se nada ficar destas páginas, algo, pelo menos, esperamos que permaneça: ‘nossa confiança no povo’. Nossa fé nos homens e na criação de um mundo em que seja menos difícil de amar”.


Paulo Freire, em “Pedagogia do Oprimido”



Por Yvette Amaral - Via ZÉducando blog


Uma educação nova, alicerçada em princípios capazes de ajudar na formação dos brasileiros é o anseio de todos, bandeira hasteada na Praça dos Três Poderes. É até slogan de demagogos que preferem o brasileiro alienado ao cidadão conscientizado. Mas, quando a expressão ‘educação nova’ vem associada ao nome de Paulo Freire, vemos no horizonte o perfil de uma escola diferente, que educa sem enquadrar e ensina sem massificar.

Filósofo e educador, ele nasceu em Recife em 1921; aos 25 anos vive a lamentável experiência da Revolução de 64, sendo como muitos outros homens de vanguarda, expulso do país. Teve a triste sina dos que sonharam com um Brasil libertado das algemas que impediam a sua ascensão como país soberano. “O tiro saiu pela culatra”, pois o exílio para Paulo Freire foi uma bênção, enquanto para nós, um retrocesso na transformação das estruturas sociais. Seus valores foram disputados fora, inclusive nos Estados Unidos, também no Chile, onde passou anos, semeando os princípios de uma adequada metodologia. Conquistou os títulos internacionais de assessor da Unesco, membro do Conselho Mundial das Igrejas e professor visitante da Universidade de Harvard.

A pedagogia de Paulo Freire aposta nas possibilidades do educando se a escola for espaço de criatividade, “de um diálogo entre o educador e o educando, mediatizado pelo meio ambiente”. Sua proposta educacional não nasceu num gabinete, mas emergiu de experiências populares que correspondiam aos interesses do aluno e do bem comum.

Infelizmente, o Brasil da ditadura militar não soube beber na fonte que nele jorrou. Deu um retrocesso nas políticas libertárias, impedindo a formação de grupos, sobretudo de jovens. As suas estratégias foram tão alienantes que as gerações daquelas décadas passaram a desprezar patriotismo, confundindo-o com militarismo. Os valores cívicos foram enterrados na meta de combater o comunismo e tudo que gerasse uma juventude politizada, num mundo em transição. Ao comentar a missão do educador, ele concorda com o pedagogo Lauro de Oliveira Lima, que proclama: “O educador não ensina, ajuda o educando a aprender”. Também nos adverte: “Ninguém pode ser autenticamente proibindo que os outros sejam. Esta é uma exigência radical. O ser mais que se busque no individualismo conduz ao ter mais egoísta, forma de ser menos”. (Os grifos são do autor).

Concluo este sucinto comentário sobre o patrimônio que herdamos de Paulo Freire, com estas pérolas do tesouro que ele nos deixou. São o último parágrafo da “Pedagogia do Oprimido”: “Se nada ficar destas páginas, algo, pelo menos, esperamos que permaneça: ‘nossa confiança no povo’. Nossa fé nos homens e na criação de um mundo em que seja menos difícil de amar”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Breve história crítica dos feminismos no Brasil

Excluídas da história oficial, as mulheres fazem do ato de contar a própria trajetória uma forma de resistência. Neste ensaio, publicado na...