Via Jornal GGN
Na verdade, não era nada disso. Alguns alunos de uma classe, dentre as dezenas de estandes organizadas para a feira cultural, apresentaram o tema "identidade de gênero", por ser atual e polêmico. Assunto demonizado por alguns adultos que nem de longe sabem o que isso significa. Logo, a escola passou a ser apontada nas redes "por estar obrigando" seus alunos a travestirem-se. Houve até quem marcasse pelo facebook uma ação violenta contra a escola.
Para entender o porquê dessa ignorância, o ódio incontido e absurdo de parte da população é preciso que se identifique o responsável: o movimento político de direita na educação, surgido no pós-golpe, batizado de "escola sem partido". Um projeto que reúne um amontoado de asneiras, entre elas a ideia de que os nossos estudantes estão sendo alvos de doutrinação política e de que os valores morais da família são afrontados por uma suposta "ideologia" de gênero na escola. Sem contar que os principais artífices desse movimento são flagrantemente pessoas ultraconservadoras, muitas das quais assumidamente fazem apologia ao estupro, ao racismo, à xenofobia e à redução da maioridade penal. Os que defendem a "escola sem partido" determinam aos professores que se mantenham neutros no ambiente escolar, sem ensinar conteúdos que supostamente possam induzir aos estudantes em assuntos religiosos, políticos e ideológicos, passíveis, inclusive, de prisão.
A "escola sem partido" é inconstitucional, segundo o Ministério Público, embora projetos com este teor tramitem em várias câmaras municipais, que realizaram audiências para debater o tema e encaminharam votações em plenário. Muitos perderam a votação ou sequer foram realizadas. Há casos sub judice.
Os movimentos sociais avançaram bastante na construção de uma consciência crítica e na promoção da justiça social no nosso País. Esses avanços são intoleráveis para os ultraconservadores. Por isso a direita está apostando na interferência direta na escola, para amordaçar os professores em sala de aula e tratar o aluno como um incapaz vulnerável. Eles entenderam que não bastou dar o golpe, é preciso mudar a cultura, anular consciências. E é contra isso que os movimentos sociais, os sindicatos e todos os setores verdadeiramente democráticos da nossa sociedade devem atuar decisivamente até que se coloque uma pá de cal nessa aberração autoritária.
*Maria Izabel Azevedo Noronha – Bebel - Presidenta da APEOESP
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