País doente - Pai mata filho e comete suicídio após divergências sobre ocupações

Quando se vê que um pai matou seu filho único, estudante de matemática na UFG, porque participara do movimento de ocupação de escolas e, depois do crime, suicidou-se, há algo de muito errado acontecendo conosco. 

Quem dissemina ódio e indignação seletiva pode se considerar co-autor, partícipe dessa tragédia de Goiânia



Este País está doente. - Por Eugênio Aragão é ex-Ministro da Justiça.
Quando se lê, ao acordar, que em Goiânia, pertinho de nósum pai matou seu filho único, estudante de matemática na UFG, porque participara do movimento de ocupação de escolas e, depois do crime, suicidou-se, há algo de muito errado acontecendo conosco. Há quem dirá que a culpa é dos “comunistas” que incitaram à ocupação de escolas. Argumento fácil para adoçar neurônios intoxicados de ódio disseminado por todos os meios de comunicação. Não percebem, porém, esses dedos apontados, que são eles tão vítimas quanto o infeliz pai.
Fatos como este não acontecem por acaso. Não podem mais ser qualificados de marginais. Eles fazem cada vez mais parte de nosso doentio cotidiano. Estamos assistindo entorpecidos ao alastramento dessa psicose coletiva, adredemente inoculada na sociedade, para tornar-nos incapazes de reagir ao desmonte de nosso estado, nossa economia, nossa cultura e nosso modo de ser e viver. Só não vê quem não quer ou quem já se deixou acometer por essa epidemia.
Há quem possa e deva ser responsabilizado por isso. O inimigo comum não é o outro que pensa diferente e faz escolhas outras que as minhas. O inimigo comum é quem alastra o ódio para tornar nossa terra um inferno em que se fica encapetando o próximo, longe da lição de homem de Nazaré que nos ensinou a amá-lo.
Quem dissemina bronca, raiva, indignação seletiva pode se considerar co-autor, partícipe dessa tragédia de Goiânia. Quem semeia o ódio na população civil, orientado por objetivos políticos indisfarçáveis, com a sistematicidade de uma campanha massiva de desinformação calculada, está praticando crime contra a humanidade.
É só ler o Art. 7° do Estatuto de Roma que disciplina o funcionamento do Tribunal Penal Internacional e lembrar-se do precedente do Tribunal de Ruanda sobre a Rádio Mille Collines.
Será que diante da recusa do ministério público e do judiciário, muitas vezes cúmplices, de por termo a essa onda de ódio, vamos ter que recorrer a instâncias internacionais? Reflitamos.

Estudantes lamentam morte do colega Guilherme Silva Neto

Nota de ocupantes do campus Sapucaia IFSul:
“LUTO: É com pesar que confirmamos a morte de Guilherme Irish
O militante foi morto na tarde de hoje pelo próprio pai que não concordava com a participação do discente de Matemática, na UFG, nas ocupações da Universidade.
Lamentamos profundamente que o discurso fascista de ódio tenha atingido amplos setores da sociedade, chegando às nossas casas, e que cause vítimas dentre os que lutam por uma sociedade mais justa”.😦
Guilherme Irish, Presente!
Agora e Sempre!
Nota da UNE
Nota da UNE sobre a morte do estudante Guilherme Silva Neto, da UFG
A União Nacional dos Estudantes lamenta profundamente a morte do estudante Guilherme Silva Neto, de 20 anos, e do seu pai Alexandre José da Silva Neto, ocorrida no final da tarde da terça-feira (15). Neste momento de imensa consternação, a UNE presta solidariedade e respeita o luto da família e amigos.
Guilherme era estudante de Matemática da Universidade Federal de Goiás e participava do movimento estudantil; fazia parte do Diretório Acadêmico do seu curso e no último período era um ativo militante da ocupação da UFG contra a PEC 55, ação pacífica que têm mobilizado jovens em todo o Brasil em defesa da educação.
Embora o caso revele uma relação particular entre pai e filho, a UNE enxerga com preocupação o fato de que a morte de Guilherme tenha envolvido uma discussão sobre as suas preferências políticas e a intolerância que isso gerou no ambiente familiar.
Em um momento delicado da política brasileira e mundial, em que temos presenciado manifestações de ódio exacerbado contra os movimentos sociais, a UNE entende que é necessário reafirmarmos o diálogo e a democracia como principal saída para os diferentes pensamentos existentes na sociedade.
União Nacional dos Estudantes
16 de novembro de 2016

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