BRASILEIROS SUBVERSIVOS -Quando Crianças são fichados como terroristas

Quando meninos são fichados como terroristas

A revista Brasileiros publicou uma excelente reportagem sobre crianças que foram presas, fichadas como "perigosas à segurança nacional" e banidas do país durante a ditadura militar. Disponível para leitura no site http://www.forumverdade.ufpr.br/wp-content/uploads/BR68_Filhos_do_Brasil.pdf


Presos com a avó e os pais, os brasileiros Ernesto, Zuleide, Luis Carlos e Samuel conheceram os cárceres do regime militar, foram enquadrados como subversivos e banidos do País. O mais novo tinha 2 anos e 3 meses. O mais velho estava para completar 9 anos. A saga das quatro crianças é a primeira reportagem da série Filhos do Brasil, que
a Brasileiros começa a apresentar nesta edição.



"Para banir os meninos, o regime militar os enquadrou como “Perigosos à segurança nacional”


A ficha de Ernesto Carlos Nascimento nos arquivos do Departamento Estadual de Ordem Política e Social (Deops), em São Paulo, não deixa dúvidas: o “elemento” é subversivo. Informações detalhadas sobre suas ações terroristas podem ser obtidas nas pastas 30Z-160-9633 e 30Z-160-9636. Junto com Zuleide, Luis Carlos e Samuel, Ernesto foi banido do País por decreto do general-presidente Emílio Garrastazu Médici, em junho de 1970. O decreto teve como base o Ato Institucional número 13, que permitia “banir do território nacional o brasileiro que, comprovadamente, se tornar inconveniente, nocivo ou perigoso à segurança nacional”. Ocorre que Ernesto, Zuleide, Luis Carlos e Samuel são as quatro crianças da fotografia da página anterior, tirada na Base Aérea do Galeão, no Rio de Janeiro, minutos antes de serem embarcadas em um Boeing 707 da Varig rumo a Argel, capital da Argélia. Ernesto, o mais novo, tinha apenas 2 anos e 3 meses. Samuel, o mais velho, completaria 9 anos dali a quatro meses. Os 40 adultos que aparecem na imagem são presos políticos do regime militar instaurado no País entre 1964 e 1985, que deixou pelo menos 357 mortos e desaparecidos, além de tratar meninos como terroristas.


As marcas da tortura não desaparecem jamais


"Com apenas 1 ano e 8 meses Carlos Alexandre Azevedo sofreu na pele a violência do regime militar. Cacá cresceu arredio ao contato com outras pessoas. mesmo submetido a sucessivos tratamentos médicos, não conseguiu superar um transtorno diagnosticado como fobia social.  Aos 37 anos, sentiu-se confortado quando a Comissão de Anistia, do ministério da Justiça, reconheceu o seu drama. não foi, porém, o suficiente para continuar a viver."


Carlos era chamado pela família de Cacá e tinha apenas 1 ano e 8 meses quando uma equipe do Dops, a temida polícia política do regime militar, chegou à casa da família, no Jardim da Saúde, em São Paulo, na manhã de 15 de janeiro de 1974. O bebê estava sozinho com a babá. O pai, Dermi, havia sido preso na véspera, acusado de “difamar o Estado brasileiro”. A mãe, a pedagoga Darcy Andozia, tinha saído de casa muito cedo, em busca de ajuda para o marido. Não satisfeitos com o resultado da busca que haviam feito na residência na noite anterior, os homens do Dops haviam voltado para repetir a dose. Mandaram Carlos e a babá ficarem calados e quietos. O bebê não obedeceu. Levou um soco que fez sangrar sua boca. Com os lábios cortados, foi levado para a sede do Dops, um prédio de tijolos à vista no centro paulistano, conhecido na época como palco de infindáveis sessões de tortura. No total, a criança passou cerca de 15 horas em poder das forças de repressão. “Como alguém pode considerar um bebê subversivo, perigoso, inimigo do governo? Pelos relatos que recebemos, ele levou até choques elétricos”, indigna-se Dermi. No decorrer daquele dia, a mãe de Carlos também acabou presa. Mais tarde, o bebê foi entregue aos avós maternos, em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo. Na verdade, em vez de entregue, ele foi jogado no chão. Acabou com um machucado a mais na cabeça. “Isso me foi contado. O certo é que ele ficou apavorado. E esse pavor tomou conta dele. Entendo que a morte dele foi o limite da angústia.”.

Confira a edição da Revista na Integra: Aqui





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